tag:blogger.com,1999:blog-49179584883118477802024-02-19T02:17:23.906-08:00ReflexõesAqui é música. E o que mais precisar.
Por Renato Ruas PintoReflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.comBlogger99125tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-32758823063581424112022-09-17T15:47:00.007-07:002022-09-17T16:39:40.054-07:00“Maus”, ou a falência da raça humana<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-ywmS90dsj-pLVgyR7ClCcqsbpRH8yfqWyVBVAG3mnxYVWLK1eqTCmYFmGWNCRZJgJZhko2Ypuepn__PIozp4Q5Rkvu5058anipyGiiB0AsP3-zZRNNbMjyEwVv-Yk19k3jqhyZp39xPdQErF6pNemzN7PTBoFz3MnsGtelQl1BteKvB1eKXEaM1y/s1204/blog-202209-Maus.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="642" data-original-width="1204" height="342" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-ywmS90dsj-pLVgyR7ClCcqsbpRH8yfqWyVBVAG3mnxYVWLK1eqTCmYFmGWNCRZJgJZhko2Ypuepn__PIozp4Q5Rkvu5058anipyGiiB0AsP3-zZRNNbMjyEwVv-Yk19k3jqhyZp39xPdQErF6pNemzN7PTBoFz3MnsGtelQl1BteKvB1eKXEaM1y/w640-h342/blog-202209-Maus.jpg" width="640" /></a></div><br />Por esses dias encarei uma leitura um tanto surpreendente por vários motivos: “Maus” de Art Spielgeman. Nessa obra-prima em forma de história em quadrinhos, Spielgeman conta a história de seus pais, judeus poloneses que sobreviveram ao holocausto e ao inferno dos campos de concentração como Auschwitz-Birkenau. É o tipo de leitura que surpreende de tantas formas que me deixou refletindo por muitos dias sobre tudo que li em suas páginas, tanto a história em si quanto a forma como ela é contada.<p></p><p>Spielgeman era um desenhista e cartunista com uma história de vida e um relacionamento com os pais um tanto complicados. Tentando entender sua própria história e origem, ele se aproxima do seu pai, já idoso e com diversos problemas de saúde, para conhecer a trajetória da família que sobreviveu aos horrores da guerra e à política implacável de extermínio de judeus posta em prática pelos nazistas. Spielgeman conta essa história em quadrinhos de uma maneira um tanto surpreendente. Nela, os judeus são retratados como ratos (“maus” significa rato, em alemão) e os alemães como gatos. Outras nacionalidades ganham outras representações, como os poloneses não-judeus que aparecem como porcos, o que, naturalmente, não os deixou muito felizes e gerou protestos. A história fez muito sucesso e rendeu a Art Spielgeman um prestigiado prêmio Pulitzer, o primeiro dado a uma HQ.</p><p>A história do holocausto já foi contada de várias formas, mas, por todo absurdo que ela carrega, é sempre chocante ler um novo relato. Não dá para ficar impassível ou compreender minimamente como a humanidade chegou em um ponto tão baixo em uma suposta era moderna onde se imaginava que tais barbaridades seriam coisas do passado. Ainda assim, Spielgeman traz um relato em um formato surpreendente. Seus pais passaram por absolutamente tudo de brutal que se podia experimentar: medo, fome extrema, doenças, perda de um filho e de quase toda a família e toda sorte de castigos e humilhação. A sobrevivência deveu-se a grandes doses de sorte, mas principalmente à inteligência do pai do autor, Vladek Spielgeman. Trabalhador e esperto, bolou vários estratagemas para esconder a si e à família por um bom tempo e, depois de capturados, sobreviver aos campos de extermínio.</p><p>A HQ tem vários méritos, mas uma coisa me chamou a atenção em particular: como o pai de Art conseguiu compreender de forma clara e relativamente fria o que é a maldade e o individualismo que existem em cada um. Ao sermos levados a situações extremas, o modo de sobrevivência sobrepuja, na imensa maioria das pessoas, qualquer solidariedade ou senso de coletividade. O livro abre com uma história da infância de Art, onde ele lamenta que seus amigos não o esperaram para alguma atividade. É quando o pai o interpela: “Amigos? Se trancá-los em um quarto sem comida por uma semana aí ia ver quem é amigo.”</p><p>Toda miséria e sofrimento que judeus e outros prisioneiros passaram muitas vezes não era o suficiente para acender uma mínima chance de humanidade mesmo entre eles. Naturalmente há exceções – e quem foi exceção e tentou fazer algo pelo próximo, na maioria das vezes pagou caro ou até com a própria vida por isso – mas o que o pai de Art Spielgeman descreve é o cada um por si para sobreviver e tentativas de se levar alguma vantagem no meio de todo o sofrimento. Talvez tenha sido isso o que mais me fez refletir durante toda a leitura, isto é, como as pessoas esquecem do coletivo para se defender ou se beneficiar.</p><p>Mesmo após a derrota e expulsão dos alemães da Polônia, os poloneses não-judeus ainda se aproveitaram da situação e ocuparam, por exemplo, as casas vazias dos judeus e não aceitaram devolvê-las ao fim do conflito. Isso levou muitos judeus a imigrarem como os próprios pais de Art, que foram para a Suécia e, depois, para os Estados Unidos. É impossível não pensar no que foi postulado pelo iluminista Rousseau, que afirmava que o ser humano é intrinsecamente bom, mas corrompido pela sociedade. Eu sempre questionei isso.</p><p>Também são inevitáveis as reflexões sobre os dias atuais. Primeiro, ao traçar um paralelo com a pandemia que vivemos nos últimos anos. No começo, dizia-se que sairíamos dela melhor como sociedade, mas tenho sérias dúvidas se foi isso que aconteceu. O que pudemos testemunhar foram grupos agindo contra a ciência e sem o mínimo de preocupação com as medidas necessárias para minimizar os problemas, ou movendo campanhas infundadas contra vacinas e medidas sanitárias essenciais. Ou então pensar na ascensão, nos últimos anos, de movimentos de extrema-direita, sendo vários ligados a neonazistas. Parece-me que, além de não aprender com os horrores do holocausto, também estamos esquecendo rapidamente o que aconteceu.</p><p>Finalmente, “Maus” foi centro de uma polêmica recente nos EUA, ao ter seu uso didático proibido por um conselho escolar de uma cidade do Tennessee, por alegações de linguagem imprópria, imagens de nudez e por retratar o suicídio. Pelo visto, o pânico moral e puritanismo nos dias de hoje está fazendo com que questões mais importantes não sejam discutidas. Talvez até contribuindo para a ascensão dessa extrema-direita de inspiração puritana e neonazi. Precisamos escolher nossas batalhas com urgência.</p>Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-32360800443380616352022-02-20T15:04:00.003-08:002022-02-20T15:04:52.412-08:00Os Beatles vistos por dentro<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEis6Kvgx3jqLwaIkPRafP2egnuJPJz4AJaAKTtBsPOdpXI6hbR5z1vL_sRMMRyOOJbZgGG_gr2IClKYGKuvWbimXRHjIgUHm8EjVYWr3tzpV8nDBXPGJRExWGsv3EGCXOs4B0WsFlm4o7gqaAunprrBKrgutjcQ0yOoM35Mu7HGyqTj4vE7DdUfnxMY=s1204" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="642" data-original-width="1204" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEis6Kvgx3jqLwaIkPRafP2egnuJPJz4AJaAKTtBsPOdpXI6hbR5z1vL_sRMMRyOOJbZgGG_gr2IClKYGKuvWbimXRHjIgUHm8EjVYWr3tzpV8nDBXPGJRExWGsv3EGCXOs4B0WsFlm4o7gqaAunprrBKrgutjcQ0yOoM35Mu7HGyqTj4vE7DdUfnxMY=w400-h214" width="400" /></a></div><br />O Papai Noel chegou mais cedo em 2021 para os fãs dos Beatles. Em novembro passado, foi lançado o documentário “Get Back” (Disney+), que mostra, de uma posição privilegiada, a criação do álbum “Let it be”. Esse foi o penúltimo disco gravado pelos Beatles, quando o grupo já se segurava por um fio. E o registro é histórico. A criação e a gravação das músicas foram acompanhadas, durante várias semanas, por equipes de filmagem e é possível ver de perto e com poucos filtros todo o processo criativo e a interação entre os membros do grupo mais influente da música pop.<p></p><p>Parte das filmagens não é inédita. O projeto nasceu da ideia de se produzir um especial para TV e um show no qual os Beatles apresentariam músicas inéditas. O plano era uma volta ao rock básico: músicas gravadas praticamente ao vivo e que pudessem ser executadas em shows. Há tempos os Beatles vinham sofisticando suas gravações, com a inserção de orquestras, camadas diferentes de vozes e toda sorte de efeitos, sem a preocupação da execução ao vivo. Assim, seria uma volta às raízes, dos tempos de shows simples. Reuniram-se, então, em um estúdio de TV onde começaram o trabalho de composição, sempre filmados por diversas câmeras. Depois de algumas semanas, desistiram do estúdio de TV e optaram por voltar para o estúdio próprio, que ainda estava sendo finalizado no prédio da Apple, no centro de Londres.</p><p>Cerca de 60 horas de filmagem e 150 horas de áudio foram condensadas em um documentário de uma hora e vinte minutos de duração, lançado em 1970 com o título “Let it be”, mesmo nome do álbum. O documentário, assinado pelo diretor Michael Lindsay-Hogg, é bastante sombrio e mostra a tensão alta no relacionamento entre os quatro Beatles. Todo o material foi revisitado pelo aclamado diretor Peter Jackson (“O senhor dos anéis”) e transformado em três capítulos, que somam quase 8 horas de vídeo, e rebatizado de “Get Back”. Nesse formato foi possível incluir elementos novos e que ajudam a mudar um pouco a imagem que os fãs faziam daquele momento. Se o original mostrava um clima péssimo de trabalho, Peter Jackson ajudou a trazer uma nova luz aos eventos. Antes do lançamento, com base nos primeiros vídeos promocionais, havia indícios de que o novo filme poderia querer “adoçar” os eventos, numa possível tentativa de reescrita da história da banda.</p><p>Felizmente não foi o que aconteceu. As tensões e discussões estão lá e dois momentos cruciais são adicionados ao filme original. Primeiro, o auge da tensão, quando George Harrison se levanta e anuncia que iria deixar a banda e vai embora. Somente após vários dias de discussões entre os outros três e duas reuniões com Harrison é que este recua e retorna ao trabalho. Outro momento precioso para os fãs e pesquisadores é a conversa gravada entre John Lennon e Paul McCartney justamente sobre a saída de George. A conversa franca, gravada com um microfone oculto e sem conhecimento dos dois, é reveladora. Ainda assim, “Get Back” mostra que havia um clima razoável, com várias brincadeiras entre eles, e que ainda existia uma química incrível e respeito mútuo entre John e Paul quando o assunto era compor e gravar. É impressionante ver como músicas que hoje são icônicas nasciam dentro do estúdio. É uma janela aberta mostrando o talento para a criação dos quatro rapazes de Liverpool.</p><p>É um documentário que recomendo para todos? Não. Para os fãs, nem é preciso. Provavelmente já assistiram... e mais de uma vez. Para quem tem só alguma curiosidade pelos Beatles, também não indico. É muito longo e, em alguns momentos, pode parecer retratar só o caos nos ensaios ou discussões inúteis. Mas, para quem tem um interesse um pouco maior sobre música, com certeza eu indico. É a chance de ver do lado de dentro um dos maiores grupos de todos os tempos. Não creio que outras grandes bandas, como Pink Floyd ou Led Zeppelin, tenham material tão rico sobre o trabalho de criação e que mostre de forma tão honesta a dinâmica do grupo. De quebra, a cena do famoso show no teto do prédio da Apple é maravilhosa e emocionante. Mostra que, mesmo que os Beatles estivessem muito próximos do rompimento, ainda existia uma chama forte acesa e que sempre nos fará pensar: “Por que não durou mais?”</p><p><br /></p><p>(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/os-beatles-vistos-por-dentro/1595" target="_blank">Jornal das Lajes, fevereiro/2022</a>)</p>Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-63293450981293305982021-12-19T17:28:00.000-08:002021-12-19T17:28:42.337-08:00Discos da pandemia<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiK2qSv6BdfSmaAlGDfSoQWNU9re0exAg-oMRqk7gH_4ZqsPXEZaF0ilJu1DFZWWjOsEHYM0zxF6cCh14rSjnnbq-vCUUQ6EPaA-glJNFLYubwK_ThEX-N-MwrR0dFSTBdUlfrMfWFNFZym9jllOU23K540bzMFx9H2SuLWb-S4kPQnVq43k_vuXjGD=s1204" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="642" data-original-width="1204" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiK2qSv6BdfSmaAlGDfSoQWNU9re0exAg-oMRqk7gH_4ZqsPXEZaF0ilJu1DFZWWjOsEHYM0zxF6cCh14rSjnnbq-vCUUQ6EPaA-glJNFLYubwK_ThEX-N-MwrR0dFSTBdUlfrMfWFNFZym9jllOU23K540bzMFx9H2SuLWb-S4kPQnVq43k_vuXjGD=w400-h214" width="400" /></a></div><br />Os artistas estiveram entre os mais afetados por essa terrível pandemia cuja força vai diminuindo, mas que ainda inspira cuidados. Com os palcos fechados por um longo período, toda a classe artística e profissionais de suporte – iluminadores, técnicos de som e outros - perderam, da noite para o dia, sua fonte de renda. Também ficaram expostos os problemas inerentes ao <i>streaming</i>, cuja remuneração dada ao artista beira o ridículo.<p></p><p>Ainda assim, muitos músicos deram uma contribuição inestimável e nos ajudaram a suportar esses dias. “Música e vinho alegram o coração”, já dizia o Eclesiastes. E na pandemia pudemos ter algum conforto não só em apresentações via internet, mas também em discos. Apesar das dificuldades, não foram poucos os bons trabalhos e pretendo comentar alguns. Vamos, então, aos dois primeiros discos.</p><p><b>“A desordem dos templários”, Guilherme Arantes</b> – Guilherme Arantes foi uma verdadeira usina de produção de grandes sucessos nos anos 80, ao lado de artistas como Lulu Santos e Renato Russo. Quem é da minha geração se lembra da presença constante do artista em programas de TV como o “Cassino do Chacrinha” com hits como “Cheia de Charme”, “Deixa chover” e a canção que o revelou, “Planeta água”. O que poucas pessoas sabem é que, por trás do artista capaz de compor sucessos populares, há um músico virtuoso e influenciado pelo intrincado rock progressivo.</p><p>Fã declarado de tecladistas como Rick Wakeman, ele começou sua carreira com o Moto Perpétuo, grupo de rock progressivo bastante ortodoxo. Com este novo álbum, Guilherme Arantes volta às origens com uma pegada bastante progressiva e de arranjos elaborados, mas sem perder de vista o seu talento para fazer canções com melodias que saímos cantando depois da primeira audição. Gravado praticamente sozinho com suporte de teclados e tecnologias digitais, o álbum consegue soar quente e é preciso dar a Guilherme todos os créditos pelos arranjos e composições de alta qualidade. O trabalho, que reúne influências diversas de estilos brasileiros e do rock, é uma ótima audição para fugir de fórmulas tradicionais.</p><p><b>“Aldir Blanc inédito”, vários artistas</b> – Aldir Blanc é uma unanimidade ao se compilar qualquer lista dos maiores letristas da música brasileira. O poeta e escritor deixou sua marca em letras que se tornaram praticamente hinos como “O bêbado e o equilibrista” ou “O mestre-sala dos mares”, ambas compostas em uma das parcerias mais prolíficas da música mundial, com João Bosco. A perda recente do compositor, infelizmente, é ilustrativa das mazelas que afligem a vida de artistas. Nos modelos atuais de remuneração de compositores – com pagamentos pífios em plataformas de <i>streaming </i>– a sobrevivência digna destes artistas vai se tornando cada vez mais difícil, como se mostrou nos últimos dias de vida de Aldir.</p><p>Passando por dificuldades financeiras, o artista dependeu de ajuda de amigos e fãs para se tratar de complicações de saúde sofridas durante a pandemia. Acabou por contrair COVID e se tornou uma de suas vítimas mais conhecidas. Após sua partida, sua viúva Mary Lúcia de Sá Freire reuniu escritos inéditos e composições que ainda não haviam ganhado registro em discos para uma homenagem ao poeta. Seus parceiros de longa data e artistas de peso prontamente toparam o projeto, capitaneado pelo selo Biscoito Fino. Parceiros como João Bosco, Guinga, Joyce e Cristovão Bastos não poderiam faltar no disco, que teve a produção assinada por Jorge Helder e ainda contou com grandes intérpretes como Maria Betânia, Chico Buarque e Dori Caymmi, entre outros. Com tanto talento reunido, o resultado não poderia ser menos que excelente.</p><p>Ambos discos são audições mais que recomendadas. Além disso, são um instantâneo importante desses dias terríveis de pandemia. O de Guilherme Arantes, produzido sozinho em casa, é o retrato do isolamento ao qual muitos de nós fomos submetidos. Já o de Aldir ilustra, de forma triste, as dificuldades inerentes à vida de artistas. E também dá um rosto conhecido para representar as milhares de vítimas de uma pandemia que escancarou a cara nefasta da desigualdade social e a incompetência e má fé de um governo que ignorou a vida de muitos.</p><p><br /></p><p>(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/discos-da-pandemia/1571" target="_blank">Jornal das Lajes, novembro de 2021</a>)</p>Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-13224856782415037682021-08-21T16:06:00.000-07:002021-08-21T16:06:27.268-07:00Notáveis cinquentões<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAZ2VYNtU77Bs-Wbd5P_TZ6YM-GpKJzvYJxjQQub8NR-MTxD_oxOtF0bGht2DewlXsOsKef0SgvrTlRMCQ-zcH-GpPHOx2K3RBlRkuJoSn_por9HGWATiaKz30lS__8Fa5HKA7U1P8xgU/s1204/202108_Cinquentoes.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="642" data-original-width="1204" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAZ2VYNtU77Bs-Wbd5P_TZ6YM-GpKJzvYJxjQQub8NR-MTxD_oxOtF0bGht2DewlXsOsKef0SgvrTlRMCQ-zcH-GpPHOx2K3RBlRkuJoSn_por9HGWATiaKz30lS__8Fa5HKA7U1P8xgU/w400-h214/202108_Cinquentoes.jpg" width="400" /></a></div><br />O mundo estava em efervescência nos anos entre 1967 e 1974. Colônias e países subjugados se levantavam contra seus senhores, a guerra do Vietnã estava à toda e mudanças de costumes sacudiam a juventude. Em outras palavras, o mundo incendiou-se literal e figurativamente. As artes sempre andam sintonizadas com seu tempo e costumam ser uma válvula de escape para as pressões acumuladas. Assim, foi natural que a produção de música popular andasse igualmente inflamada, refletindo toda a agitação em curso. O resultado foi uma quantidade de discos incríveis produzidos e que ainda hoje influenciam e são objetos de discussões e estudos.<p></p><p>O tempo passa, mas as obras ficaram registradas nos fonogramas e em mídias que evoluíram. Nos últimos anos, temos visto uma série de grandes álbuns completando cinquenta anos e rendendo desde matérias a relançamentos ou edições luxuosas para celebrar sua importância. O ano de 1971 também registrou grandes lançamentos e vale a pena lembrar e ouvir alguns desses notáveis cinquentões.</p><p><b>Construção – Chico Buarque: </b>o álbum marca o retorno de Chico Buarque do exílio e é um disco de canções de alto teor crítico, reflexo de um dos períodos mais terríveis da ditadura militar, que estava sob o comando do general Médici. Com grandes músicas, como “Construção”, “Cotidiano” e “Valsinha”, é um disco que seguramente entra na lista dos álbuns mais marcantes de um dos maiores compositores da música popular.</p><p><b>Imagine – John Lennon:</b> se o disco tivesse só a faixa título, já seria elogiado. Mas conta com outras ótimas músicas que mostram um lado intimista de John Lennon em canções quase confessionais. Para os fãs dos Beatles e de Lennon, o aniversário rendeu uma edição comemorativa de luxo com músicas extras e gravações alternativas. A caixa é um bocado cara, mas os extras podem ser ouvidos nas plataformas de streaming.</p><p><b>Blue – Joni Mitchell:</b> Joni Mitchell combina uma voz incrível com um talento único como compositora. Autora de melodias belíssimas e letras com conteúdo, ela teve suas músicas gravadas por outros artistas da cena folk antes mesmo de lançar seus álbuns. O disco é totalmente autoral e, seguindo a tradição folk, é predominantemente acústico e com bases elegantes. A voz incrível de Joni é um bálsamo para a alma.</p><p><b>Tim Maia – Tim Maia: </b>após o grande sucesso da sua estreia no ano anterior, Tim conseguiu engatar uma boa sequência em um trabalho mais autoral do que o primeiro. O disco reúne algumas músicas que se tornaram sucessos do artista, como: “Não quero dinheiro” e “Você”. Tim Maia seguiu com sua fusão de ritmos brasileiros ao soul norte-americano e consolidou a reputação de revelação.</p><p><b>Led Zeppelin IV – Led Zeppelin: </b>o grupo de rock inglês já havia se firmado como uma das grandes bandas de rock dos anos 70, quando lançou o seu quarto disco. O amadurecimento da banda pode ser visto em um disco que mostra sua evolução, mas sem perder a pegada e suas bases pesadas. Recheado de grandes músicas, como “Stairway to heaven”, “Black dog” e “Going to California”, foi sucesso imediato de público e crítica.</p><p><b>Pearl – Janis Joplin: </b>a intensa vida de Janis foi interrompida precocemente aos 27 anos e apenas a poucos meses do lançamento deste álbum. Após alguns anos como parte da fraca “Big Brother and the Holding Company”, Janis finalmente conseguiu um contrato para se lançar como estrela principal e recebeu da gravadora Columbia uma produção que merecia. “Pearl” foi seu segundo disco solo e Janis mostra toda a potência que lhe rendeu fama nos anos anteriores.</p><p><b>“Gilberto Gil” – Gilberto Gil e “Caetano Veloso” – Caetano Veloso:</b> registrei os dois discos juntos por conta de seus paralelos. Os álbuns foram gravados no exílio na Inglaterra e contêm várias semelhanças. Nos dois, o tom é melancólico por conta das dores do exílio e a produção é bem simples. Enfim, os discos ilustram bem o espírito pesado daquele tempo por conta dos coturnos que esmagavam um país inteiro.</p><p>A lista não para aqui, já que o ano de 1971 registrou outros grandes álbuns. Porém, fica aí a dica de audições preciosas de obras que resistiram ao teste do tempo, mas ainda assim servem como instantâneos de tempos agitados.</p><p><br /></p><p>(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/notaveis-cinquentoes/1544" target="_blank">Jornal das Lajes, agosto/2021</a>)</p>Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-81067901124029609942021-07-18T10:05:00.004-07:002021-07-18T10:06:07.615-07:00Leituras musicais<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTj-og6b1iAwEL1iCPFnSc2KvFeLsOAk3hj4Z57BLcZb4oMJRE4V7Y1tu-TwA8aeVevRtru_mUawR5dQhi9mkEwmIX5uDMwrOFPADb0UQYXqyl6hcPRSHcpsJ1xTQWmAr_Uuh4J7Ulxmw/s2048/201505-leituras+musicais.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1392" data-original-width="2048" height="272" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTj-og6b1iAwEL1iCPFnSc2KvFeLsOAk3hj4Z57BLcZb4oMJRE4V7Y1tu-TwA8aeVevRtru_mUawR5dQhi9mkEwmIX5uDMwrOFPADb0UQYXqyl6hcPRSHcpsJ1xTQWmAr_Uuh4J7Ulxmw/w400-h272/201505-leituras+musicais.jpg" width="400" /></a></div><br />Como aficionado por música, fico muito feliz por ver aumentar a oferta de títulos dedicados a essa arte nas prateleiras de livrarias e bancas. De biografias a temas específicos, é muito bom ver trabalhos frutos de pesquisa meticulosa trazendo histórias e curiosidades sobre passagens interessantes da vida de artistas e seus álbuns clássicos. Recentemente li dois ótimos títulos sobre períodos interessantes da música, um sobre a música brasileira e outro sobre o rock, e gostaria de compartilhar com quem gosta do assunto.<p></p><p>O primeiro é “Pavões Misteriosos” do jornalista André Barcinski e que trata da música brasileira entre 1974 e 1983 e que ele próprio já define no subtítulo como o tempo da “explosão da música pop no Brasil”. O autor explica que escolheu o período por achar que a bibliografia sobre a época é escassa e que muito se escreveu sobre os anos anteriores, quando do nascimento da Bossa Nova e os grandes festivais, e os anos seguintes a 1983, tempos de outro grande movimento: o rock de Legião Urbana, Paralamas e companhia. O livro prima por dois pontos que valem a sua leitura. Primeiro, por mostrar que o período foi musicalmente relevante, com grandes trabalhos produzidos por artistas como Raul Seixas e os “Secos & Molhados” de Ney Matogrosso. Segundo, por mostrar uma fase de transição da música brasileira para tempos mais profissionais e de busca de grandes sucessos – e de faturamento.</p><p>Muito se questiona hoje a orientação das gravadoras de se promover somente trabalhos de retorno financeiro imediato em detrimento da qualidade e o livro mostra onde isso começou. Fica claro o momento no qual a direção das gravadoras foi tomada por executivos trabalhando mais guiados pelos planos de marketing do que pelo conteúdo artístico. Ou como as gigantes do entretenimento mundial invadiram o mercado brasileiro que explodia em vendas a reboque do milagre econômico dos anos 70. Por fim, o livro ainda conta passagens divertidas como a febre dos “falsos gringos”, os brasileiros que cantavam em inglês como se fossem estrangeiros. Lista que inclui desde Morris Albert, que veio a ter uma carreira internacional de sucesso, e até Fabio Júnior que chegou a se apresentar como Mark Davis. Curiosas também são histórias do surgimento de fenômenos de vendas como Sidney Magal, Gretchen e Xuxa.</p><p>O segundo livro é “O Som da Revolução” do pesquisador e jornalista Rodrigo Merheb e o tema é o bom e velho rock. O que torna o livro interessante é que ele focou em um período crucial e de grandes transformações: os prolíficos anos de 1965 a 1969. Quatro anos parece pouco, mas é impressionante o que se mudou nesses anos. Em 1965 os Beatles lançaram “Help”, um álbum de transição que reúne músicas inocentes como “You like me too much” e outras bem mais maduras como “Yesterday”. Apenas dois anos depois eles estavam lançando o mítico “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e revolucionando o rock. O autor demarca simbolicamente os anos com dois eventos que marcaram o rock: o Newport Folk Festival de 1965, quando Bob Dylan chocou fãs do estilo Folk ao empunhar uma guitarra elétrica, e o show dos Rolling Stones no autódromo Altmont em 1969, que terminou com o assassinato de um espectador pelos famigerados Hell’s Angels, que faziam a segurança do show. O primeiro evento representa o amadurecimento do rock. O segundo seria o fim do sonho e da inocência. E falando em inocência, em sua pesquisa primorosa Merheb retrata sem tintas coloridas o “verão do amor” de San Francisco de 67, quando a cidade foi invadida pelos hippies. O livro retrata um lado diferente da paz e do amor, como os problemas de saúde pública causados pelas internações ligadas às drogas. No fim do livro o autor lista todos os artistas e álbuns mencionados ao longo dos capítulos, o que é uma fonte preciosa e divertida para pesquisa.</p><p>Duas leituras e tanto pra quem gosta de música. E mais do que ler, o melhor é ouvir os grandes artistas e discos sabendo um pouco mais de suas histórias.</p><p><br /></p><p>Aproveito para agradecer à minha tia Mercês que me presenteou com os dois ótimos livros.</p><p><br /></p><p>(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/leituras-musicais/783" target="_blank">Jornal das Lajes, maio/2015</a>)</p>Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-52188455800784315642021-07-18T09:47:00.003-07:002021-07-18T09:53:20.437-07:00A nata<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRm1RfaXRSf5swlca_8gNmWcGSmHzZt7umlUQyPlzAUWOovl9_bvOQya_-hkNeDfpsGkxiX8swUhC9I8dZYxvclFo7jZqufdTi91juF-vmg_FQNzp2gv9sDGmrU99SnmV6TsKNYeQDpnU/s1199/201411_JackBruce-optm.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="639" data-original-width="1199" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRm1RfaXRSf5swlca_8gNmWcGSmHzZt7umlUQyPlzAUWOovl9_bvOQya_-hkNeDfpsGkxiX8swUhC9I8dZYxvclFo7jZqufdTi91juF-vmg_FQNzp2gv9sDGmrU99SnmV6TsKNYeQDpnU/w400-h214/201411_JackBruce-optm.jpg" width="400" /></a></div><br />No final de outubro último, o grande baixista, cantor e compositor Jack Bruce encantou-se aos 71 anos. Bruce foi um dos baixistas que mais marcou e influenciou o rock e não posso me furtar de prestar uma pequena homenagem a esse músico e ao legendário trio que consagrou não só ele, mas também o guitarrista Eric Clapton e o baterista Ginger Baker: o The Cream.<p></p><p>Em meados dos anos 1960, quando Londres fervia de novidades musicais e o rock inglês dominava o mundo, os três músicos já eram reconhecidos no meio artístico, mas ainda não desfrutavam de grande sucesso comercial. Eric Clapton havia passado por um grupo que começava a despontar, os Yardbirds, porém, achava que estavam tomando um caminho excessivamente comercial e saiu do grupo em 1965. Naquele momento Clapton estava totalmente devotado ao blues e foi para uma das bandas que ajudava a difundir o estilo na Inglaterra, a John Mayall & The Bluesbrakers. Eric Clapton começou a ser reconhecido como grande guitarrista e nesse período apareceram nos muros de Londres a famosa inscrição “Clapton is God” (Clapton é Deus).</p><p>Jack Bruce já havia tocado em diversos grupos de blues e jazz e tocou com Clapton por um breve período nos Bluesbrakers. Antes, Bruce foi companheiro de Ginger Baker em alguns grupos conhecidos na cena inglesa. Curiosamente, já era conhecida a rivalidade entre os dois e havia várias histórias de brigas, inclusive agressões em pleno palco. Apesar desse potencial para problemas – que de fato determinou o fim do grupo – Bruce e Baker convidaram Clapton e o convenceram a formar o The Cream, com uma proposta de ser um grupo de rock e blues, porém, com uma pegada de peso para os padrões da época em termos de distorções e da base rítmica densa. O nome, que significa “A Nata”, é uma alusão nada modesta ao virtuosismo dos três músicos, que sabiam do que eram capazes.</p><p>O grupo estreou em 1966 com o álbum “Fresh Cream”. Logo chamaram atenção por vários motivos: o já citado virtuosismo dos músicos, que se entregavam a longos improvisos em suas apresentações, o peso das bases e das distorções em suas composições ou releituras de clássicos do blues e, finalmente, o fato de ser um trio, formação pouco usual no rock naqueles tempos. Com somente três músicos em cena é preciso muita competência e entrosamento para se preencher os espaços, especialmente ao vivo, o que não foi problema para os três. Eric Clapton é até hoje conhecido como um dos maiores guitarristas de rock e blues e teve uma carreira de sucesso. Baker e Bruce não se tornaram tão conhecidos do grande público, mas são constantemente lembrados por músicos e fãs como uns dos maiores instrumentistas do rock. Jack Bruce é, em minha opinião, um dos baixistas mais importantes do estilo, pois, junto com Paul McCartney, ajudou a dar voz própria ao contrabaixo, instrumento até então mais usado para marcar harmonia e ritmo. É impressionante como o baixo de Bruce complementa e dialoga com a guitarra de Clapton.</p><p>O Cream viria a gravar em estúdio somente mais três álbuns: “Disraeli Gears”, “Wheels of Fire” e “Goodbye”. Recomendo particularmente “Disraeli Gears”, um disco inspirado, e “Wheels of Fire”, que contém algumas faixas ao vivo onde se tem a noção da força do grupo. Apenas quatro anos após a formação, o grupo sucumbiu aos problemas internos e brigas entre Bruce e Baker. Tiveram um breve retorno para alguns shows em Nova Iorque e Londres em 2005, que resultaram na gravação de um ótimo CD e DVD. O tempo e problemas de saúde não foram suficientes para superar a grandeza desses artistas.</p><p>Foi uma curta duração, mas o suficiente para marcar o rock. O peso das suas músicas com certeza abriu o caminho para o Hard Rock e Heavy Metal. Além disso, o formato em trio inspirou até o mesmo Jimi Hendrix, que logo depois fundou o seu, o Experience. E essa é uma das belezas da música: tempo e longevidade não são necessariamente documento. Competência e originalidade são o que fazem uma banda entrar para a história.</p><p><br /></p><p>(Texto publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/a-nata/712" target="_blank">Jornal das Lajes, novembro/2014</a>)</p>Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-91744744496114776452021-07-18T08:35:00.000-07:002021-07-18T08:35:08.285-07:00Novas percepções sobre Elvis<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWg0SrWsdvsVeLLAf2Xfx1et72xCJiQplkcWxPbobjC9JWzaWz8XSqlpxSRkpdgY2_RW9ASIEVtKjxKr3ptMM4UJnH1VqC0dfFv5u9sut1zipIKGP8otJz_XDLwabtO7uXLsWjBScNV7g/s1199/202107_Elvis-optm.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="639" data-original-width="1199" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWg0SrWsdvsVeLLAf2Xfx1et72xCJiQplkcWxPbobjC9JWzaWz8XSqlpxSRkpdgY2_RW9ASIEVtKjxKr3ptMM4UJnH1VqC0dfFv5u9sut1zipIKGP8otJz_XDLwabtO7uXLsWjBScNV7g/w400-h214/202107_Elvis-optm.jpg" width="400" /></a></div><br /> Uma das coisas boas que os novos serviços de vídeo nos trouxeram foi o acesso a incontáveis documentários. E, dentro desse universo, há diversos documentários sobre música e que sempre trazem novidades. Em um dos últimos que assisti encontrei ótimas histórias, depoimentos e análises que me trouxeram mais luz sobre um dos maiores ídolos do rock, o inigualável Elvis Presley. O documentário “Elvis – o rei do rock” (tradução ruim do original “Elvis – the searcher”, que seria algo como “Elvis – o que buscava respostas” em uma tradução livre) está disponível na Netflix e conseguiu trazer informações interessantes e depoimentos de peso que ajudam a entender o impacto causado por Elvis e um pouco de sua personalidade.<p></p><p>O documentário é todo baseado em imagens do artista e os áudios dos depoimentos e trechos de entrevistas são colocados por cima das imagens. Um dos méritos é conseguir criar uma narração muito legal, mesmo com “retalhos” de vozes diversas, inclusive a do próprio Elvis. Entre os “narradores”, além de Elvis, há pessoas do seu círculo íntimo como sua esposa Priscilla, amigos próximos e o seu polêmico empresário, o “Coronel” Tom Parker. Há também boas intervenções de escritores, pesquisadores, instrumentistas que acompanharam Elvis e dos músicos Tom Petty e Bruce Springsteen. A história é contada em dois episódios de um pouco mais de uma hora e meia cada.</p><p>O filme segue a cronologia da vida do biografado. Já na sua infância, é ressaltada a sua atração não só pela música de um modo geral, mas também pela música negra. De acordo com o filme, ainda criança, Elvis entrava escondido nas igrejas de negros para acompanhar seus corais e conjuntos. Pode parecer algo trivial, mas é preciso entender o contexto. Elvis nasceu em uma pequena cidade no interior do Mississipi em 1935. Um estado racista onde não só os direitos eram negados aos negros, mas também em tempos em que a Ku Klux Klan os enforcava e queimava por conta da cor de sua pele. Mais tarde, adolescente, Elvis se muda para Memphis, um centro tradicional de música negra como o jazz e o blues. Colegas de escola apontam que o viam como um menino estranho por frequentar bares de negros para apreciar a música. Isto é essencial para entender a grande revolução que Elvis causou.</p><p>Elvis, ao tentar a sorte em uma audição no estúdio da Sun Records, do idealista Sam Phillips, começou mostrando um repertório tradicional de country, outra de suas influências, mas sem empolgar o dono do estúdio. Em uma pausa, Elvis começou um improviso com um clássico de blues, “That’s all right”, com uma batida um pouco diferente e na hora Sam Phillips viu que tinha algo diferente ali. Um artista com uma voz excelente, bonito e ainda por cima trazendo uma fusão de estilos que iria agradar todas as audiências jovens. Com o lançamento dos primeiros compactos, Elvis tem uma ascensão meteórica e toma conta de rádios e lota shows. E revela mais um talento como um verdadeiro dono do palco, que hipnotizava as plateias com sua voz e seu rebolado que chocavam os pais dos fãs. A Sun era uma gravadora pequena e não conseguia fazer uma promoção nacional dos discos. Após um ano, o empresário Tom Parker, que enxergou o potencial do artista, e a gravadora RCA Victor, compram o contrato de Elvis e ele rapidamente se torna um fenômeno nacional.</p><p>A partir daí o documentário mostra os diversos e tortuosos caminhos que Elvis seguiu em sua vida pessoal e artística. A convocação pelo exército no auge da fama, seguida de dois anos servindo na Alemanha, o retorno ao mundo da música e, depois, um período longo como ator de cinema e longe dos palcos. Elvis então retorna para a música e para seu habitat natural, o palco. Nos seus últimos anos, entra em um ritmo alucinante de shows, com mais de uma centena de apresentações de grande porte por ano. Para se aguentar de pé ou para conseguir dormir, se entupia de drogas lícitas e ilícitas. O preço maior foi cobrado e ele nos deixou com apenas quarenta e dois anos.</p><p>Foi uma vida breve, mas que deixou marcas na música e na sociedade. Elvis abriu não só o caminho para o rock, mas para aquilo que viria a ser chamado de música pop. Além da sua contribuição musical, também ajudou a estabelecer padrões que redefiniriam a juventude em vários aspectos, com impactos no comportamento e em hábitos de consumo. Enfim, Elvis é mais um artista com status de lenda e sobre o qual ainda se falará e se ouvirá muito.</p><p><br /></p><p>(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/novas-percepcoes-sobre-elvis/1535" target="_blank">Jornal das Lajes, julho/2021</a>)</p><p><br /></p><p>----------</p><p>Para complementar a coluna do mês, a minha sugestão é uma sequência de vídeos muito legais disponíveis no YouTube. Em 1968, Elvis se encontrava há anos longe do palco, dedicando-se ao cinema. Um canal de televisão organizou um especial onde ele pôde mostrar que continuava afiado. Em outras palavras, foi uma espécie de retorno triunfal à música. A parte mais legal do show é quando ele faz uma roda de improviso com a banda que o acompanhava no começo da carreira. Este momento do show mostra a energia incrível do rock nos seus primórdios. Repare que Elvis entra no espírito do momento e custa a se segurar sentado.</p><p><a href="https://youtube.com/playlist?list=PL7uMBlhHG8iEKzXhomLvJRBKTICWH_XCQ">https://youtube.com/playlist?list=PL7uMBlhHG8iEKzXhomLvJRBKTICWH_XCQ</a></p><p>Para quem quer ouvir as músicas mais emblemáticas de Elvis, a coletânea “Elvis 30 #1 Hits” (fácil de achar qualquer plataforma de música), consegue cobrir toda sua carreira de forma muito didática. Diversão pura para animar o corpo e o espírito.</p><p><a href="https://deezer.page.link/h98awP1SdXN4jQK17">https://deezer.page.link/h98awP1SdXN4jQK17</a></p><div><br /></div>Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-27919655859969187132021-06-20T08:46:00.000-07:002021-06-20T08:46:36.460-07:00Os oitenta anos do bardo<p><span style="font-family: inherit;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: inherit;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdSNNEjafBGLbCYmItPzA-Yxu73C9Qb5KImSo-NIY0L_NKm4hK1YD0Nh3rr1exFndYqDY5PzZZ4RJOtXTJirLokWkmb8Sf8Awd-MK7gKKxly9rIfSIpZTMsXwaMhRATPQh3lbUJ2HP1UA/s1199/202108_80-anos-bob-dylan.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="639" data-original-width="1199" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdSNNEjafBGLbCYmItPzA-Yxu73C9Qb5KImSo-NIY0L_NKm4hK1YD0Nh3rr1exFndYqDY5PzZZ4RJOtXTJirLokWkmb8Sf8Awd-MK7gKKxly9rIfSIpZTMsXwaMhRATPQh3lbUJ2HP1UA/w400-h214/202108_80-anos-bob-dylan.jpg" width="400" /></a></span></div><span style="font-family: inherit;"><br />Em maio, uma das figuras mais influentes da música popular completou oitenta voltas ao redor do sol: o cantor e compositor Bob Dylan. Que o rock foi uma das maiores revoluções recentes na cultura e costumes ninguém contesta. E Bob Dylan tem, com todos os méritos, os créditos de uma parte importante nessa revolução. O rock nasceu como um estilo musical para consumo de jovens. Assim, era natural que, nos seus primórdios, o estilo falasse essencialmente de um universo adolescente: festas, carros esportivos, namoros e paixões de verão. Mas, com a chegada de Bob Dylan na cena, a coisa mudaria e o estilo entraria em sua fase adulta.</span><p></p><p><span style="font-family: inherit;">O próprio Bob Dylan foi atraído pelo rock quando adolescente. Porém, depois de começar a se dedicar seriamente à música com suas primeiras bandas, achou que o rock não tinha substância – como, de fato, não tinha – e virou-se para a música folk estadunidense, que bebia na tradição do folclore e do country, trazendo letras com conteúdo. Ao se mudar para Nova Iorque, logo se envolveu com a cena folk local e, após participar em discos de alguns artistas, conseguiu o contrato para o seu primeiro álbum, “Bob Dylan”, de 1962. A estreia, que continha principalmente músicas tradicionais folclóricas e apenas duas autorais, não teve grande repercussão.</span></p><p><span style="font-family: inherit;">O álbum seguinte, contudo, “The Freewheelin’ Bob Dylan”, tornou-se um marco. Com um repertório quase todo autoral, Dylan mostrou a força de suas letras em canções que se tornaram icônicas, como “Blowin’ in the wind”. Além disso, antenado com o seu tempo e com a luta pelos direitos civis dos negros, seu repertório foi automaticamente incluído entre as músicas cantadas em passeatas. Finalmente, em um 1963, quando os Beatles ainda cantavam canções inocentes, como “She loves you”, Bob Dylan já estava em outro patamar de complexidade de letras, como se pode ver em “A hard rain’s a- gonna fall”.</span></p><p><span style="font-family: inherit;">E o rock? Onde ele entra nessa história de músicas folk acompanhadas só de violão e instrumentos acústicos? Uma troca importante aconteceu em 1964, quando os Beatles, em turnê pelos EUA, conheceram Bob Dylan. O trabalho de Dylan inspirou os Beatles a fazer música mais séria e, ao mesmo tempo, o sucesso dos Beatles e suas guitarras teria feito Dylan buscar audiências mais amplas. Há quem diga que esse foi um dos encontros mais importantes do rock, mas isso é uma opinião e, como tal, pode ser debatida. O fato é que no ano seguinte Dylan usou instrumentos elétricos em um álbum pela primeira vez. E tomou uma sonora vaia quando subiu ao palco do tradicional festival de música folk, em Newport, com uma guitarra em vez do violão.</span></p><p><span style="font-family: inherit;">O rompimento de Dylan com a tradição do folk, além de representar a entrada do rock em sua fase adulta, como já citado, deu a pista do que viria a ser a carreira do artista. Dylan se tornaria um artista descolado de rótulos ou estilos. Em sua extensa discografia, ele passearia com desenvoltura pelo folk, rock, blues, country e até pela música gospel. Dono de uma obra extensa e recheada de grandes discos, Dylan se tornou objeto de uma idolatria incondicional por parte dos fãs. Curiosamente, essa paixão também fez movimentar, desde os tempos das fitas cassetes, um mercado de discos não oficiais de shows ou gravações não lançadas, as chamadas “bootleg”.</span></p><p><span style="font-family: inherit;">Dylan não só rompeu fronteiras dentro da música, mas também de outras artes e se aventurou como escritor e artista plástico. Finalmente, a força da sua escrita – em especial, de suas letras – foi coroada em 2016 com o prestigiado Prêmio Nobel de Literatura. Ainda que o prêmio reacenda uma polêmica antiga sobre classificar letras de música como poesia ou não, é um reconhecimento sem precedentes para um artista popular.</span></p><p><span style="font-family: inherit;">Bob Dylan, enfim, é um artista de primeira grandeza e um dos grandes nomes de nosso tempo. Mais do que a qualidade do seu trabalho, é preciso destacar a extensão de sua influência e o legado que construiu para as artes. Com violão ou com guitarra, não deixe de ouvir Dylan.</span></p><p><span style="font-family: inherit;"><br /></span></p><p><span style="font-family: inherit;">----------</span></p><p><span style="font-family: inherit;">Para esta coluna resolvi fazer algo um pouco diferente e incluir uma <i>playlist </i>com grandes músicas do Bob Dylan. </span>Para quem já é fã, é para se divertir. Para quem conhece pouco mais do que “Blowin’ in the wind” ou “Mr. tambourine man”, é a chance de sentir o peso das canções do bardo. Divirta-se.</p><p>Confira a <i>playlist</i>: <a href="https://b.link/playlist-bobdylan">b.link/playlist-bobdylan</a></p><p><span style="font-family: inherit;"><br /></span></p><p><span style="font-family: inherit;">(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/os-oitenta-anos-do-bardo/1522" target="_blank">Jornal das Lajes, junho/2021</a>)</span></p>Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-24116904798520425092021-04-17T12:31:00.003-07:002021-04-17T12:32:22.247-07:00Precisamos de discos<p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPO86dumLLlbN84f_IOsr52cZvzsNJ0XQw2trdWMbFbRqo1XvZR5BRU2QfjtD3D1_OXTizG5k7f3t1Rt7nCnqqReRMZ6xxdijPyFTtCenufmH0-fqAuBT1w2reu0LF7jGovvhvxyvnITE/s1204/202104_cxJoyce.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="642" data-original-width="1204" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPO86dumLLlbN84f_IOsr52cZvzsNJ0XQw2trdWMbFbRqo1XvZR5BRU2QfjtD3D1_OXTizG5k7f3t1Rt7nCnqqReRMZ6xxdijPyFTtCenufmH0-fqAuBT1w2reu0LF7jGovvhvxyvnITE/w400-h214/202104_cxJoyce.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: left;">A caixa da Joyce Moreno produzida pelo selo Discobertas:<br />resgate necessário da história da nossa música</td></tr></tbody></table><br />Bem, ao menos eu preciso. Gosto de ouvir música e ter informações sobre o que está tocando e não abro mão de ter um encarte e poder admirar a capa. Alguém pode até argumentar que isso seria coisa de fanático e que um ouvinte casual só quer escutar música e pronto. E talvez seja verdade, visto que muita gente sempre ficou satisfeita de ouvir sua música favorita no rádio e depois migrou para os tocadores de mp3 e, recentemente, para o Spotify e outros serviços de <i>streaming</i>. Mas a minha preocupação é que se o formato do <i>streaming </i>não for revisto, pode contribuir para apagar parte de nossa memória cultural.<p></p><p>Por esses dias, eu comprei uma caixa de CDs da grande compositora e cantora Joyce Moreno, com quatro álbuns lançados por ela nos anos 80, remasterizados. Feliz com a aquisição, já estava preparando para tirar uma foto e compartilhar nas redes sociais, quando comecei a analisar o conteúdo com cuidado e as reflexões que se seguiram me levaram a escrever este texto. Nos CDs foi incluída uma reprodução dos encartes originais, além das letras e créditos aos músicos envolvidos. Não é uma edição de luxo, mas é um trabalho muito bem executado, promovido pelo selo “Discobertas”, do pesquisador Marcelo Froes, sobre o qual já escrevi nessa coluna (confira <a href="https://reflexoes-renatoruaspinto.blogspot.com/2020/03/garimpeiros-de-musicas.html" target="_blank">o texto AQUI</a>).</p><p>E aí alguém pode me questionar: “Mas se não preciso do encarte, é só abrir no Spotify”. Pode tentar, caro leitor, mas já adianto que o sucesso será parcial. E é quando se percebe que essas plataformas precisam melhorar e muito. O problema começa na organização do acervo da Joyce. Parte dos seus discos está sob nome artístico “Joyce”, como ela começou a carreira, e outra como “Joyce Moreno”, que ela adotou após se casar com o baterista Tutty Moreno. Além disso, a caixa possui quatro CDs: “Feminina” (1980), “Água e Luz” (1981), “Tardes Cariocas” (1983) e “Saudades do Futuro” (1985). O terceiro simplesmente não está disponível no <i>streaming</i>. Finalmente, os dois primeiros aparecem com uma capa errada. Mais do que uma tremenda falta de respeito com a artista e seu trabalho, é uma parte da nossa rica música que vai sendo apagada e o acesso negado às futuras gerações.</p><p>Não me tomem como um saudosista que resiste às tecnologias. Gosto muito do <i>streaming </i>pela praticidade e pelo universo de possibilidades que ele me abre. Porém, a forma como essas plataformas operam precisa ser revista urgentemente. O primeiro grande problema é a remuneração pífia aos artistas, em especial os pequenos e independentes, que, ao fim de um ano, recolhem no máximo uns poucos reais e, mesmo assim, se conseguirem muitas execuções de suas músicas. Isso dificulta qualquer artista viver da sua arte e continuar produzindo material de qualidade. Com a pandemia, durante a qual os shows foram proibidos, o problema da remuneração ficou escancarado. Artistas são necessários e seu trabalho movimenta toda uma indústria. Ou o <i>streaming </i>se ajusta para pagar valores mais justos, ou estamos alimentando um modelo insustentável, em que só os artistas de grande repercussão poderão se sustentar. E não vamos depois reclamar que caiu o nível da música.</p><p>Além disso, a falta de informação sobre os álbuns e a desorganização dos catálogos só atrapalham e uma parte da história dos artistas e seus álbuns vão sumindo. Eu sempre preciso recorrer à internet e à Wikipedia para pesquisas sobre determinado artista ou grupo, até para saber coisas básicas, como qual álbum foi lançado primeiro, pois nem isso costuma aparecer corretamente no <i>streaming</i>.</p><p>Finalmente, quando faltam discos no catálogo, a possibilidade de ouvi-los vai se complicando, já que, por razões que desconheço, o CD está sumindo no Brasil. Enquanto esse formato segue firme em outros países, com várias lojas vendendo CDs novos, aqui até as grandes gravadoras estão deixando de lançar novidades. Considerando que o preço do vinil, mesmo o nacional, é alto, quando ficamos restritos aos CDs importados, o preço começa a ficar proibitivo.</p><p>Por isso tudo, eu acho que precisamos de discos. Curto e ouço muita coisa em <i>streaming</i>, mas, sem mudanças nas plataformas estamos perdendo oportunidades e apagando a nossa história recente. O que virá depois? É difícil prever. Mas algo precisa acontecer.</p><div><br /></div><div>(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/precisamos-de-discos/1503" target="_blank">Jornal das Lajes, abril/2021</a>)</div>Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-66197118719952218892021-03-21T08:21:00.000-07:002021-03-21T08:21:52.919-07:00Instrumental para todos os gostos<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvHSLQb7HXloOroBxylp_hMk36eYPaxJogZEEzib1pknzyXeMfSB2mIt8qyHVC828Rp_3SgiJqgrrzvCXnBXEmDp2bKO_r3547fpnkBqPol8vMnamMx6Rdj3i3F8Z52PCfSdEYTR7efkE/s1199/202103-instrumental.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="639" data-original-width="1199" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvHSLQb7HXloOroBxylp_hMk36eYPaxJogZEEzib1pknzyXeMfSB2mIt8qyHVC828Rp_3SgiJqgrrzvCXnBXEmDp2bKO_r3547fpnkBqPol8vMnamMx6Rdj3i3F8Z52PCfSdEYTR7efkE/w400-h214/202103-instrumental.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: left;">Mais dois ótimos discos lançados em 2020</td></tr></tbody></table><br />Eu gosto muito de música instrumental, mas, curiosamente, me dei conta de que raramente escrevo sobre esse tipo de trabalho aqui na coluna. Retomando os bons álbuns lançados em 2020, vou falar justamente de dois discos instrumentais e de estilos bem diversos, mas que têm entre si uma pegada rock em comum. Os discos em questão são “Open source”, de Kiko Loureiro, e “Sessões elétricas para um novo tempo”, de Ricardo Vignini. Vamos aos discos.<div><br /></div><div><b>Kiko Loureiro, “Open source” </b>– Kiko Loureiro é, sem dúvida, um dos mais talentosos guitarristas de rock da atualidade. Se já era reconhecido há um bom tempo no Brasil, principalmente pelo seu trabalho com a banda Angra. O reconhecimento e a fama internacional vieram ao ser recrutado por Dave Mustaine para o Megadeth, banda de renome no heavy metal. No seu último disco solo, ele mostra mais uma vez sua técnica impecável em um disco instrumental. Existe uma lenda – ou preconceito – de que guitarristas muito virtuosos não transmitem sentimento nas suas músicas, e isso é algo que acho uma bobagem. De fato, há guitarristas que não têm nada a mais a oferecer além de velocidade, mas isso está longe de ser verdade no caso de Kiko Loureiro. É um guitarrista cujo som vai muito além da técnica assombrosa.</div><div><br /></div><div>Já tive a oportunidade de vê-lo ao vivo e sempre fiquei impressionado, mesmo o seu estilo não sendo o tipo de música que curto. Fiquei curioso ao saber que ele lançou um disco em plena pandemia e fui conferir. Kiko recrutou músicos que sempre tocam com ele, como o excelente baixista Felipe Andreoli e o baterista Virgil Donati, e botou na praça um disco excelente para quem curte rock instrumental. O disco ganhou, inclusive, o prêmio de melhor disco de guitarra do ano concedido pela revista “Guitar World”. Um dos destaques é a pesada “Imminent Threat”, que conta com a participação do também virtuoso Marty Friedman, que comandou a guitarra do Megadeth por muitos anos.</div><div><br /></div><div><b>Ricardo Vignini Trio, “Sessões elétricas para um novo tempo” </b>– Já escrevi algumas vezes nesta coluna sobre os trabalhos do violeiro Ricardo Vignini: seus discos solos ou com a dupla Moda de Rock, que toca clássicos do rock na viola. Vignini é violeiro com todas as credenciais. Reverencia e trata com o máximo respeito as obras dos grandes mestres, como Tião Carreiro e Índio Cachoeira, mas nunca restringiu a viola caipira às modas, toadas e cururus, com os quais ela é normalmente associada. A viola caipira vem, desde os anos 80, passando por um renascimento impressionante, conquistando adeptos e alargando fronteiras. Vignini é um dos responsáveis por essa expansão de limites ao trazer a viola para o rock, colocar efeitos de distorção e até tocar em uma viola de corpo sólido e captadores tal qual uma guitarra com a qual estamos acostumados.</div><div><br /></div><div>Trazer a distorção para a viola não significa que Vignini coloca para escanteio a tradição. Ao contrário, em seu trabalho estão sempre presentes os ritmos e técnicas tradicionais da viola, como ele mostra novamente no álbum “Sessões elétricas”. Neste trabalho inspirado pelo rock, Vignini explora muito bem as possibilidades e sonoridades da viola caipira. Primeiro, o som rico das cordas duplas e das afinações abertas (para quem é leigo, é quando você pode tocar um acorde mesmo com todas as cordas soltas). Finalmente, nas técnicas típicas da viola, como o ponteado, em que o violeiro explora o polegar e o dedo indicador da mão do ritmo para tirar efeitos melódicos, harmônicos e rítmicos muito interessantes. Dessa fusão saiu um trabalho extremamente original e de roupagem enxuta, o tradicional power trio, com bateria e baixo. É fusão, mas, se for para rotular, pode-se dizer que o disco é um trabalho de rock e que alterna faixas um pouco mais pesadas com baladas, como a bela “Beijando o céu”. Quem acha que o rock e a música caipira são universos complemente distintos, vai se surpreender.</div><div><br /></div><div>Com tudo de ruim que rolou no ano passado, ouvir dois bons discos é um alento. As artes e os artistas são mais do que necessários para manter nosso espírito animado. E Kiko Loureiro e Ricardo Vignini o fizeram com louvor. Não deixem de ouvir essas duas ótimas pedidas!</div><div><br /></div><div>(Publidcado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/instrumental-para-todos-os-gostos/1493" target="_blank">Jornal das Lajes, março/2021</a>)</div>Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-43053213833004300872021-02-21T05:29:00.000-08:002021-02-21T05:29:10.933-08:00Histórias secretas<p><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQ958IrZcjs_lY34ZDvOMdixX7xbYLIWVf6kORuQ_4cyKjWS4LomcP1YqTvQSvJrSU4EtURBoitzBIyfN795y9G0Oe8PvgZOLh5WyBlFZZu4pyWVjHBKxxRJNll_EJl1uFAEM-woZnzxw/s1199/202102_os-carbonos-optm.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="639" data-original-width="1199" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQ958IrZcjs_lY34ZDvOMdixX7xbYLIWVf6kORuQ_4cyKjWS4LomcP1YqTvQSvJrSU4EtURBoitzBIyfN795y9G0Oe8PvgZOLh5WyBlFZZu4pyWVjHBKxxRJNll_EJl1uFAEM-woZnzxw/w400-h214/202102_os-carbonos-optm.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: left;">Os Carbonos: uma das ótimas histórias que a série conta.</td></tr></tbody></table><br />O que você acha do som da banda “Os Carbonos”? Possivelmente não conhece o nome ou nunca ouviu falar. Mas tenha certeza de que você já os ouviu tocando em dezenas de gravações, incluindo grandes sucessos da música brasileira, como “É o amor”, de Zezé di Camargo ou “Summer Holiday”, de Terry Winter. Aliás, sabia também que esse último artista, com nome gringo e cantando em inglês, é na verdade brasileiro? Estas e outras histórias curiosas estão no ótimo documentário “A história secreta do pop brasileiro”, disponível no Amazon Prime e outros serviços de assinatura.</p><p>A série de oito episódios é dirigida pelo jornalista e escritor André Barcinski, que conhece como poucos os temas tratados no documentário. Barcinski é o autor de “Pavões Misteriosos”, livro sobre o qual já escrevi aqui na coluna (leia <a href="https://reflexoes-renatoruaspinto.blogspot.com/2015/05/leituras-musicais.html" target="_blank">a resenha AQUI</a>), e ele traz para a tela algumas histórias do livro, bem como dá rosto e voz aos personagens. Tal como no livro, o documentário faz um recorte específico da música brasileira, entre meados dos anos 70 e o começo dos 80. Foi um período de grande crescimento do mercado fonográfico e vendas generosas sustentavam toda uma indústria que ia desde o estúdio, com técnicos, músicos e cantores, até os shows dos artistas e disc jockeys (os DJs) de prestígio de rádios e bailes.</p><p>O documentário dá um peso maior justamente ao lado “indústria” da música, de produção em escala e com foco no atendimento de determinadas demandas ou oportunidades de mercado. Os episódios mostram principalmente o trabalho duro de bastidores de músicos e produtores e, assim, trazem histórias para lá de interessantes. Algumas destas histórias estão ligadas ao crescimento acelerado do mercado, que abriu oportunidades para gravadoras menores. As grandes gravadoras tinham matriz no exterior, de modo que tinham um catálogo de artistas estrangeiros à disposição. Se as menores não tinham esse acesso, então elas criaram os seus “estrangeiros”. E para isso se valeram de dois recursos, verdadeiras cópias de artistas estrangeiros e os falsos gringos. No primeiro caso, pegava-se um artista com algum reconhecimento no estrangeiro e colocava-se um artista nacional com um nome parecido interpretando as mesmas músicas. O documentário mostra, por exemplo, a história do brasileiro José Gagliardi, que cantava com o nome artístico Prini Lorez, que imitava o jeito de cantar e o repertório do norte-americano Trini Lopez.</p><p>O segundo recurso, o dos “falsos gringos”, rendeu frutos e alguns artistas que se faziam de estrangeiros conseguiram sucesso de alguma forma. O caso mais conhecido é o de Morris Albert, cujo nome é Maurício Alberto. Morris Albert emplacou um grande hit, “Feelings”, que foi regravado por artistas famosos como Johnny Mathis, Paul Anka e Ella Fitzgerald. Ou Michael Sullivan, que teve grande sucesso comercial compondo músicas infantis para a Xuxa e o Trem da Alegria. Artistas como Fábio Júnior começaram a carreira se passando por estrangeiros e, quando não sabiam falar inglês, iam aos programas de auditório ou shows sem poder abrir a boca para entrevistas para não entregar a encenação.</p><p>Por trás desses artistas havia alguns personagens essenciais, que eram os músicos de estúdio. Um capítulo do documentário é dedicado ao grupo paulista “Os Carbonos” e outro episódio, aos cantores de estúdio e de coros, responsáveis pelos backing vocals. A história d’Os Carbonos é digna de registro. O grupo é composto por três irmãos de talento que trabalhavam em estúdios incessantemente, de segunda a segunda, fazendo as bases para uma infinidade de artistas de vários estilos. Foram tantas gravações que nem eles sabem em quantas músicas e discos tocaram. Se houvesse registro, pelas contas de Barcinski, provavelmente o grupo estaria no livro Guinness como os artistas com mais horas registradas em fonogramas.</p><p>O documentário ainda trata de várias outras histórias bem legais como, por exemplo, o surgimento do mercado de música infantil no Brasil. São episódios curtos, algo como 30 minutos, e de conteúdo rico. Fica a dica para quem quiser saber mais sobre nossa música. E fico na torcida para ter uma segunda temporada.</p><div><br /></div><div>(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/historias-secretas/1483" target="_blank">Jornal das Lajes, fevereiro/2021</a>)</div>Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-16608556890397959802021-01-24T08:45:00.003-08:002021-01-24T08:45:48.441-08:00Música, apesar de tudo<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhwdLs0g02sbjckfi4PblwwacPhOaOmC3lG8hWMuGpVXjWJeF5McnCwfMDMzEgNNVTfEvLNfXgA5bu5u7y9Qpu4OkGFS87WCjre49U-7ZFxOqiNZt989dCd7P50CqrcFAlHSsrVFomXqk/s1217/202101_McCartneyIII-optm.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="639" data-original-width="1217" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhwdLs0g02sbjckfi4PblwwacPhOaOmC3lG8hWMuGpVXjWJeF5McnCwfMDMzEgNNVTfEvLNfXgA5bu5u7y9Qpu4OkGFS87WCjre49U-7ZFxOqiNZt989dCd7P50CqrcFAlHSsrVFomXqk/w400-h210/202101_McCartneyIII-optm.jpg" title="Paul McCartney: banda de um homem só" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: left;">Paul McCartney: banda de um homem só</td></tr></tbody></table><br />Vamos começando 2021 com uma ponta de esperança: a vacina que já se enxerga no
horizonte. O ano que passou foi terrível em todos aspectos, após sermos
atingidos por uma pandemia que parece ter saído de um filme ruim de terror e que
está cobrando um preço altíssimo em vidas. Ao longo de 2020, tentei trazer nesta
coluna uma série de dicas de grandes discos, dos mais variados estilos, para
proporcionar algum conforto para a alma e o coração.<div><br /></div><div>As atividades ligadas à
cultura e ao entretenimento foram severamente afetadas pelo isolamento social e
a consequente proibição de shows e abertura de teatros e cinemas. Ainda assim,
alguns artistas conseguiram produzir em alto nível e, além de shows via internet
– as lives –, alguns bons álbuns foram gestados e lançados em 2020. E para
começar bem o ano, nada como um disco excepcional do grande Paul McCartney, que,
nos últimos dias do ano, botou no ar o excelente “McCartney III”.</div><div><br /></div><div>Sempre há uma
expectativa quando um dos maiores compositores da música popular coloca um disco
novo na praça. Os últimos trabalhos de Paul, entretanto, não haviam me
impressionado de modo que não sabia exatamente o que esperar. A pandemia e o
isolamento fizeram com que Paul gravasse e produzisse um disco literalmente
sozinho, tocando todos os instrumentos. A fórmula não é nova. Ao romper com os
Beatles em 1970, Paul lançou o seu primeiro disco solo, “McCartney”, gravado
desse modo. É um disco excelente, diga-se de passagem, e que vale a pena ser
ouvido. E repetiu em 1980, com “McCartney II”. Agora ele faz o seu terceiro
álbum, no qual mostra por que é um dos grandes mestres da canção de nossos
tempos, além de desfilar seus dotes como multi-instrumentista. O resultado foi
surpreendente até para os fãs com maior intimidade com a obra fabulosa do
Beatle. </div><div><br /></div><div>“McCartney III” é um disco onde o artista se ateve unicamente em mostrar
a força das suas melodias e letras, sem se preocupar com produções rebuscadas ou
com algum apelo comercial. A voz de Paul sente o peso dos seus 78 anos, mas ele
foi completamente honesto em relação a isso, sem se preocupar em soar diferente
ou tentar dar algum retoque. Como seria de se esperar de um disco totalmente
solo, as bases são simples, mas nem por isso falta qualidade. Paul domina
diversos instrumentos e, desde quando gravou, junto com John Lennon, a maioria
dos instrumentos da clássica “The Balladof John and Yoko”, ele sempre mostrou a
sua intimidade com aqueles instrumentos que fazem a base de um bom rock:
bateria, baixo, piano e guitarras. Tal como em seu álbum de estreia solo, Paul
faz questão de mostrar que realmente sabe tocar, arriscando-se até em faixas
instrumentais.</div><div><br /></div><div>Com uma combinação de canções fortes, bases sólidas, produção
enxuta e despojada – que deixa passar até o que poderia ser chamado de pequenos
erros de corte e edição – e toda a sinceridade na interpretação de Paul, que,
como disse, mostrou sem maquiagens na voz quem ele é, o disco foi sucesso
instantâneo. Curiosamente, um disco que passa longe de buscar fórmulas de
sucesso, estreou de cara no topo das paradas britânicas e em segundo lugar nos
Estados Unidos. Mais do que o sucesso comercial, Paul nos brinda com mais um
trabalho de alto nível e em um momento particularmente delicado. Que a boa
vibração das canções do disco traga uma boa energia de que tanto precisamos para
encarar um ano que não há de ser fácil.</div><div><br /></div><div>O trabalho de Paul não foi o único disco
novo lançado em meio à pandemia, de modo que ainda temos bastante assunto para
as próximas colunas ao longo do ano. Comecem o ano conferindo essa pérola que um
dos maiores compositores de todos os tempos nos trouxe.</div><div><br /></div><div>Em tempos difíceis é que
artistas como Paul McCartney se fazem necessários para nos trazer leveza e
beleza. Falando em tempos difíceis, cuidem-se, pois ainda estamos longe de sair
desse pesadelo e toda atenção ainda é necessária. E que 2021 traga tempos
melhores para todos.</div><div><br /></div><div>(Texto publicado no
<a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/musica-apesar-de-tudo/1474" target="_blank">Jornal das Lajes, janeiro/2021</a>)
</div>Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-66881571186217640222020-05-17T07:40:00.001-07:002020-05-17T07:40:40.696-07:00Pena que durou pouco<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx5MtPzkPkmqfnZnpIxwwutfTtbMYe1CsBvU-A1Y8HvSv_gcuFY-tzTzR6wfqNb04ZqrkL1rDgSn1y340BMYheqcpG2pX4eUiRvkilD-a0fqbV7YA3yvKxgFqsDzLz6oYCSxA6fR4HyD0/s1600/202005_secos-molhados-cream-optm.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="641" data-original-width="1220" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx5MtPzkPkmqfnZnpIxwwutfTtbMYe1CsBvU-A1Y8HvSv_gcuFY-tzTzR6wfqNb04ZqrkL1rDgSn1y340BMYheqcpG2pX4eUiRvkilD-a0fqbV7YA3yvKxgFqsDzLz6oYCSxA6fR4HyD0/s400/202005_secos-molhados-cream-optm.jpg" width="400" /></a></div>
Com certeza não estou falando desta quarentena, que ainda deve se arrastar por algum tempo. Estou falando de dois grupos incríveis que fizeram muito barulho quando surgiram, inovaram em muitos aspectos e terminaram em pouco tempo de existência e de maneira tempestuosa. Mesmo assim, a influência de ambos ainda se faz sentir e sempre entram nas listas dos grandes grupos de música popular: o inglês “The Cream” e o brasileiro “Secos & Molhados”. Em comum, como mencionei, o enorme impacto quando surgiram e o fato de terminarem com brigas entre seus integrantes que perduram até hoje.<br />
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O The Cream foi formado em 1966 por três músicos que já tinham grande reputação na cena londrina da época: o guitarrista Eric Clapton, o baixista Jack Bruce e o baterista Ginger Baker. Três virtuosos, suas apresentações eram marcadas por longos e inspirados improvisos e por uma abordagem eletrificada e pesada do blues. Possivelmente, foi o primeiro power trio do rock – formação enxuta e de sonoridade densa – e abriu caminho para outros grupos como o Jimi Hendrix Experience. Duraram apenas dois anos e pouco e lançaram quatro álbuns. As brigas constantes entre Baker e Bruce foram decisivas para o fim abrupto do grupo. Dizem as lendas que houve até um ataque de faca em uma das discussões entre os dois. Ao longo dos anos os músicos até colaboraram em trabalhos uns dos outros e fizeram uma reunião em 2005, com alguns shows bastante concorridos registrados em disco e DVD. Porém, dizem que o clima não era dos melhores, mesmo após tanto tempo.<br />
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O Secos & Molhados, por sua vez, era composto pelos então desconhecidos Ney Matogrosso, Gérson Conrad e o português João Ricardo. Com composições criativas, que promoviam uma fusão de vários ritmos, performances teatrais com roupas extravagantes e rostos pintados e, é claro, a voz incrível de Ney Matogrosso, causaram furor. Com um visual e comportamento andrógino, chocaram e fascinaram ao mesmo tempo. O sucesso do disco de estreia foi tal que a gravadora teve problemas para prensar discos. O ano era 1973 e o mundo passava pela crise do petróleo, matéria-prima para a prensagem dos discos de vinil. Para dar conta da demanda, a gravadora foi obrigada a derreter estoques de discos encalhados. Após apresentações até no exterior e um concerto histórico no Maracanãzinho, recorde de público na época, o grupo se dissolveu após o segundo disco. João Ricardo levou o trabalho adiante e manteve o nome do grupo, mas sem o mesmo sucesso. As mágoas devem ser profundas, pois os três integrantes nunca mais se reuniram e até hoje evitam falar a respeito.<br />
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Com existências tão curtas, as discografias são naturalmente pequenas, mas ainda assim de muita qualidade. O Cream lançou quatro discos. Desses, apenas o último, com o sugestivo nome de “Goodbye” (adeus), não vale a pena por ser um compilado de sobras de estúdio para cumprir contrato. Os demais, “Fresh Cream”, “Disraeli Gears” e “Wheels of Fire” são ótimos, com destaque para o “Disraeli Gears”, que volta e meia aparece em listas de grandes álbuns do rock. O terceiro, “Wheels of Fire”, possui algumas faixas ao vivo que mostram bem a pegada e o virtuosismo da banda. A reunião de 2005 rendeu um bom disco ao vivo. Embora não carregue a mesma energia dos originais, os músicos continuavam afiados.<br />
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Já o Secos & Molhados lançou apenas dois discos na formação original e ambos são excepcionais. O disco de estreia de 1973, o da clássica foto das cabeças servidas em um banquete, emplacou vários sucessos como “O Vira”, “Sangue Latino” e a belíssima “Rosa de Hiroshima”, um poema de Vinícius de Moraes musicado por Gérson Conrad. O segundo álbum, de 1974, manteve o alto nível com “Flores Astrais”, “Não: Não Digas Nada” e outras.<br />
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O Cream e o Secos & Molhados duraram muito pouco, mas causaram um impacto enorme e influenciaram muitos artistas. Por que terminaram tão cedo? É difícil explicar. Tal como certas reações químicas, talvez fosse difícil controlar tanta energia. De todo modo, o legado, os ótimos discos e o status de lenda ficaram para a posteridade. Não deixe de ouvir.<br />
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(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/pena-que-durou-pouco/1383" target="_blank">Jornal das Lajes, maio/2020</a>)Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-13146836667487402702020-04-12T07:49:00.000-07:002020-04-12T12:09:43.450-07:00Eis o rock rural<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwkQdcTZ5T0h-SZEAf8ofomhxfBFKtncKeWGckDw4buo6J6dtNBzKuHGdT4dSlwpwGhl3fHs6I1w0GeZnJ0DYH3tupR9zqE-9KSGDstWDFx8NuSl0K7WdGvLlQ47FNA2D9vIZGW71m3Q0/s1600/202004_nosdorockrural-optm.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="641" data-original-width="1220" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwkQdcTZ5T0h-SZEAf8ofomhxfBFKtncKeWGckDw4buo6J6dtNBzKuHGdT4dSlwpwGhl3fHs6I1w0GeZnJ0DYH3tupR9zqE-9KSGDstWDFx8NuSl0K7WdGvLlQ47FNA2D9vIZGW71m3Q0/s400/202004_nosdorockrural-optm.jpg" width="400" /></a></div>
O começo dos anos 70 rendeu para a MPB uma geração incrível de novos artistas e injetou em nossa música um frescor de sonoridades. Apesar das cosmopolitas São Paulo e Rio de Janeiro concentrarem a produção musical, a fronteira de influências se expandiu com a chegada de novos artistas, como Lô Borges, Beto Guedes e a turma do Clube da Esquina, de Minas Gerais, ou Alceu Valença, Fagner e Belchior do Nordeste. A expansão se deu não só em termos regionais, mas também em estilos e fusões de ritmos. Uma dessas fusões veio no trabalho do trio Sá, Rodrix e Guarabyra, que lançou em 1972 o disco “Passado, Presente & Futuro”. O som do grupo foi rotulado de “rock rural”, possivelmente por conta do verso da canção de Zé Rodrix e Tavito, “Casa no Campo”, imortalizada por Elis Regina, no qual os autores cantam que queriam uma casa para, além de receber amigos e os discos, compor “rock rurais”.<br />
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O nome acabou se tornando um rótulo para um estilo que é até difícil de definir. Que há influência do rock, não há dúvida. Porém, com uma forte pitada de ritmos nacionais, numa mistura original. Original, porém, que encontra paralelos curiosos mundo afora, como no trabalho de grupos do chamado “Folk Inglês”, como o Fairport Convention. Ou, viajando um pouco mais na comparação, com o notório grupo de San Francisco, o Grateful Dead. E essa fusão saborosa de estilos voltou aos holofotes em 2017 e 2018 com a série de shows “Nós do Rock Rural – Encontro de Gerações”, que reuniu no mesmo palco os já citados Guarabyra e Tavito com dois artistas de uma geração mais recente, Tuia e Ricardo Vignini. Depois juntou-se ao grupo o experiente Zé Geraldo, autor do clássico “Senhorita”. O encontro transformou-se em um excelente disco ao vivo com o nome do show, lançado há cerca de um ano, e que chegou à minha mão recentemente.<br />
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O show foi idealizado e tem a direção artística assinada por Tuia Lencioni, cantautor do Vale do Paraíba. O nome “Encontro de Gerações” fica claro pelo time reunido. De um lado, alguns dos precursores do estilo, como Guarabyra, Tavito e Zé Geraldo. De outro, o próprio Tuia e o violeiro Ricardo Vignini. Vignini é um violeiro experiente e já mostrou que a viola pode se fundir com vários ritmos em seus trabalhos com o Moda de Rock (em que toca clássicos do rock em um duo de violas) e o Matuto Moderno (uma banda de rock com duas violas no lugar das tradicionais guitarras). Em outras palavras, se o rock rural é uma fusão de estilos, a viola de Vignini é escolha certa. De fato, ele se encaixou muito bem graças aos seus competentes solos e contrapontos. Em uma formação de instrumental bem econômico – além da viola de Vignini, só há os violões dos demais – a viola foi essencial para preencher espaços e teve a proeminência devida, mas sempre respeitando o formato de canção e seus intérpretes.<br />
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E sobre canções, o disco é um desfile de clássicos de Guarabyra, Tavito e Zé Geraldo, como “Dona”, “Casa no Campo” e “Senhorita”. Tuia, por sua vez, tem um desafio e tanto como cantautor ao dividir o palco com artistas consagrados. Em um show, é natural que a plateia espere pelo clássico para cantar junto músicas que fazem parte da memória afetiva. Por exemplo, no show em que fui, “Rua Ramalhete” foi pedida pela plateia do começo ao fim. Ainda assim, Tuia segurou as pontas e a plateia, mostrando que é ótimo cantor, dono de uma voz precisa e potente e também compositor com méritos. Ricardo Vignini ainda teve um espaço merecido para mostrar dois temas instrumentais: a virtuosa “Capuxeta” e “Alvorada”. A presença de quatro cantores tarimbados deu um brilho especial ao repertório, com ótimos arranjos vocais em canções naturalmente fortes.<br />
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Com tudo isso, o “Encontro de Gerações” foi muito feliz. Os clássicos ganharam novo fôlego em interpretações primorosas. Já a nova geração prova que a música brasileira continua forte e inspirada. Além disso, o show tem um valor importante por ter sido o último registro em disco de Tavito, que, infelizmente, se encantou poucas semanas após o trabalho ficar pronto. Enfim, o álbum é uma audição mais do que recomendada.<br />
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(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/eis-o-rock-rural/1370" target="_blank">Jornal das Lajes, abril/2020</a>)Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-39794491236704787632020-03-22T17:34:00.003-07:002020-03-22T17:34:54.954-07:00Garimpeiros de músicas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Nas minhas andanças “internéticas”, descobri mais um ótimo canal sobre música no YouTube, o “Alta Fidelidade”, do jornalista e escritor Luiz Felipe Carneiro (conheça <a href="https://www.youtube.com/channel/UCjbwfB_8hlg_GebxV46O_0A" target="_blank">o canal AQUI</a>). No canal ele apresenta notícias sobre música, resenhas de discos, entrevistas com artistas e profissionais de música e outros assuntos. Como escrevi em outra coluna, o YouTube se tornou um terreno fértil para canais dedicados a essa nobre arte, com canais diversos e com rico material para quem gosta do assunto. Além do “Alta Fidelidade” e os que citei na outra coluna, tenho seguido também os canais <a href="https://www.youtube.com/user/heavylero1" target="_blank">“Kazagastão”</a> e o <a href="https://www.youtube.com/channel/UCWjXVbDgc_XlxkNBBI58DRA" target="_blank">“Music Thunder Vision”</a>, ambos de ex-VJs da MTV Brasil, o Gastão Moreira e o Luiz Fernando Duarte, o Thunderbird.<br />
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Mas, voltando ao “Alta Fidelidade”, assisti a duas entrevistas interessantes com personagens importantíssimos na pesquisa e no resgate de capítulos importantes da música brasileira: Charles Gavin e Marcelo Fróes. O primeiro é mais conhecido por ter sido o baterista dos Titãs em sua fase de maior sucesso e, mais recentemente, como apresentador do excelente “O Som do Vinil”, exibido no Canal Brasil. O segundo é um ex-advogado ligado ao mundo da música há muitos anos e fundador do selo “Discobertas” e da “Sonora Editora”, ambos responsáveis por lançamentos excelentes de discos e livros. Eles se especializaram em revirar arquivos de gravadoras atrás de gravações originais de discos importantes e de material de estúdio descartado, além de raridades, como gravações de ensaios, fitas com as primeiras versões de músicas (as chamadas fitas demo, de demonstração) ou mesmo gravações caseiras ou feitas em shows.<br />
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A parte visível desse trabalho são os relançamentos, sejam de CDs individuais ou caixas de discos, cujo acabamento pode ser simples (um mero envelope para alguns CDs) ou até mesmo em formatos mais luxuosos. Charles Gavin, por exemplo, no começo dos anos 2000 lançou a coleção “Dois Momentos”, na qual uma série de trabalhos clássicos voltou ao mercado em CDs que traziam compilados, na ordem dos originais, dois álbuns de um artista ou grupo. Criticado em parte pelo aspecto gráfico, que não valorizava as capas originais (as duas capas vinham em um tamanho minúsculo na frente do CD), o projeto teve os méritos de oferecer os discos a preços populares e, principalmente, apresentar às novas gerações trabalhos há muito fora de catálogo. Fróes, por sua vez, tem no currículo um número enorme de caixas e de lançamentos de raridades, com destaque para os trabalhos com os acervos de Gilberto Gil e de Renato Russo e a Legião Urbana.<br />
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A parte invisível – e hercúlea – dessas iniciativas são as incontáveis horas de audição de fitas e as negociações sem fim com artistas, herdeiros, gravadoras e seus advogados. As fitas originais estão, em muitos casos, perdidas em prateleiras e o grande desafio é a quantidade de material não catalogado. Inúmeras caixas de fitas não possuem nenhuma identificação e a solução é ouvir uma por uma. Esse processo permitiu, por exemplo, o lançamento de um show ao vivo de Caetano Veloso acompanhado da renomada banda Black Rio, gravado em 1978, e que o próprio artista ignorava a existência da gravação. O disco só veio à tona em 2002 graças ao trabalho paciente de Gavin, que encontrou e trabalhou as fitas.<br />
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Fróes e Gavin são unânimes em apontar que há vários tesouros não lançados, seja porque artistas ou gravadoras não quiseram tocar alguns projetos para frente por razões diversas (falta de interesse, previsão de baixo retorno financeiro e outras), seja porque há material por ser descoberto. Porém, ambos fazem um alerta importante: uma parte significativa do acervo fonográfico nacional se encontra armazenada em um único local, uma firma terceirizada, e as condições e os cuidados não são ideais. E o fato de estar tudo junto faz correr um calafrio na espinha quando se lembra de eventos recentes, como o incêndio do Museu Nacional. De todo modo, fica a torcida para que esses e outros garimpeiros continuem nos trazendo trabalhos de qualidade e nos mostrando outras faces da nossa música.<br />
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(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/garimpeiros-de-musicas/1351" target="_blank">Jornal das Lajes, março/2020</a>)Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-40704358060303070502020-02-23T13:59:00.001-08:002020-02-23T13:59:55.111-08:00Rock e autenticidade<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Hoje temos vários canais para ouvir música: CD, vinil, mp3, streaming (Spotify e outros) e, curiosamente, até o YouTube, um serviço que nasceu dedicado ao vídeo, mas que hoje é muito usado para se consumir música. Porém, por melhor que seja seu aparelho de som ou fone de ouvido, na minha opinião, nada supera a experiência de se ouvir música ao vivo. O show é a hora da verdade. É quando o cantor mostra suas qualidades ou se vira, mesmo com algum problema na garganta. Ou quando o grupo mostra seu entrosamento e vontade – ou a falta de – de empolgar seu público. Em dezembro, tive a felicidade de ir a um show que surpreendeu e me fez pensar sobre a relação do artista com sua música e público. O show em questão foi de uma banda associada ao nosso rock dos anos 80, a Plebe Rude.<br />
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A Plebe Rude foi formada em Brasília no começo dos anos 80 e seus membros faziam parte da “Turma da Colina”, um grupo de jovens que reunia os integrantes dos núcleos de outras bandas que se consagraram na época, como a Legião Urbana e o Capital Inicial. De fato, os anos 80 foram ótimos para o rock nacional e Brasília ganhou fama como celeiro de bandas. A grande influência dos grupos dessa época era o punk. Porém, a Legião e o Capital encontraram caminhos em outras searas, enquanto a Plebe Rude manteve-se fiel ao estilo. Aqui abro um parêntese: para saber mais sobre o rock de Brasília, recomendo assistir ao excelente documentário “Rock Brasília – Era de Ouro”. A Plebe Rude teve alguns altos e baixos, brigas entre integrantes e alguns anos de hiato de 1993 a 1999. Na ativa desde então, preserva dois fundadores: o guitarrista e vocalista Phillipe Seabra e o baixista André X. Em 2004, juntou-se ao grupo o vocalista e guitarrista Clemente, da icônica banda paulista de punk rock Inocentes. O atual baterista, Marcelo Capucci, juntou-se ao grupo em 2011.<br />
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O show marcou o lançamento do novo álbum da banda, “Evolução (volume 1) ”. Confesso que nunca fui fã ou conhecedor do trabalho da Plebe Rude. Meu conhecimento se limitava aos seus sucessos, como “Até quando esperar” ou “Johnny vai à guerra”. Atraído mais pela história e reputação do grupo, fui ao show sem saber o que iria encontrar e a surpresa foi excelente. O que vi foi um show de energia alta, uma banda muito bem entrosada e uma sonoridade bem pesada, fiel ao estilo punk. A plateia era em boa parte de fãs apaixonados, que cantaram boa parte das músicas e vibraram com o show. Diga-se de passagem, deu para notar que a banda não conseguiu renovar o seu público por conta da média de idade que se podia observar. Talvez a grande surpresa tenha sido o peso do som e a pegada punk das músicas. Quando se pensa no dito popular “incendiário aos vinte, bombeiro aos quarenta”, percebe-se que ele não se aplica à banda. Além de um show pesado, o espírito contestador do punk ainda se fez visível no teor das novas músicas. Boa parte do repertório veio do novo disco e esta foi outra surpresa positiva: músicas extremamente atuais, letras relevantes e de conteúdo crítico aos dias de polarização política e ataque às artes e ciências em que vivemos.<br />
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Isso faz pensar sobre a essência do rock, um estilo do qual se espera contestação e não conformismo. O tempo costuma amansar vários artistas e grupos, de modo que é comum que aquele artista que quebrava tudo no passado hoje tenha uma pegada bem mais leve em suas músicas e performances. Assim, acho muito legal e autêntico quando grupos de rock preservam o espírito do estilo, como os Rolling Stones. Ou os Titãs, que, à medida que a banda encolheu, resgataram a sonoridade mais agressiva do começo da carreira. A Plebe Rude, definitivamente, seguiu nesta trilha sem soar falso ou forçado. Grace Slick, do Jefferson Airplane, há um tempo abandonou a música e disse que não era possível se fazer rock depois de uma certa idade. Felizmente, acho que ela estava errada, como nos provam respeitáveis senhores e senhoras, como Patti Smith ou Keith Richards. E a Plebe Rude, que continua rude e contundente, como o rock precisa ser.<br />
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(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/rock-e-autenticidade/1334" target="_blank">Jornal das Lajes, janeiro/2020</a>)Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-72124353021906687652019-12-18T16:01:00.000-08:002020-01-30T11:58:36.456-08:00Te recuerdo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8sm__9NIWKO34k7Br2q2jQEHCllPI1RAHdmDfzMmxiLY4pIr0pVf5VfuY470sGu0Y2Kk1O836AVgbEKdwR_-yQNjrkHnY5DrmF66z2uufY21RCRVvc8Se8nDTQqP5PXHzOJXXtzGZl34/s1600/201912_VictorJara.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="641" data-original-width="1218" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8sm__9NIWKO34k7Br2q2jQEHCllPI1RAHdmDfzMmxiLY4pIr0pVf5VfuY470sGu0Y2Kk1O836AVgbEKdwR_-yQNjrkHnY5DrmF66z2uufY21RCRVvc8Se8nDTQqP5PXHzOJXXtzGZl34/s400/201912_VictorJara.jpg" width="400" /></a></div>
A música sempre foi uma expressão popular muito forte e uma canalização da voz das massas. Enquanto acontecia um concerto em algum palácio da nobreza europeia medieval, em uma feira popular próxima, muito provavelmente um menestrel cantava canções satirizando seus governantes. É o que chamaríamos hoje de “música de protesto”, termo que ficou popular nos anos 60. Aquela década ficaria marcada por protestos vigorosos em todo o mundo: contra inúmeras ditaduras, contra a guerra do Vietnã, nos EUA, movimentos de independência na África e Ásia e outras bandeiras. A participação da intelectualidade e artistas nas mais diversas formas de luta foi uma constante e a música sempre foi um canal bastante democrático por permitir que a criatividade transformasse a voz e um violão em armas poderosas. Porém, muitas vezes essa militância cobrou preços caros dos seus artistas. Em alguns casos, o maior a se pagar.<br />
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Os protestos recentes no Chile, de grande proporção e que já duram várias semanas, trouxeram a lembrança de um artista importante para aquele país e que pagou com a vida pela sua militância: Victor Jara. Jara simboliza como poucos essa força da música como canal de expressão e tem sido comum ouvir as multidões entoando suas canções nos protestos atuais. Victor Jara foi um cantor, compositor e diretor de teatro consagrado em seu tempo e que sempre pautou sua arte pelas causas sociais e pelo resgate da cultura popular chilena. Ao participar de grupos dedicados ao folclore chileno, começou a compor e logo foi incentivado pela compatriota Violeta Parra (autora de clássicos como “Gracias a la vida” e “Volver a los 17”) a seguir com seu trabalho. Foi um dos expoentes nos anos 60 do movimento conhecido por “Nova Música Chilena”, marcado pela recuperação da música tradicional chilena e politicamente engajado.<br />
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O Chile teve um respiro democrático e de reformas sociais importantes entre 1964 e 1973 nos governos de Eduardo Frei e Salvador Allende. O governo do último, porém, foi interrompido por um golpe militar cuja primeira ação foi prender e fuzilar sumariamente milhares de potenciais opositores ainda nos primeiros dias do golpe. Victor Jara estava entre estes prisioneiros. Jara já era um artista de renome no teatro e na música, com oito discos gravados. Sua atuação devotada às causas sociais e a proximidade com o governo de Allende, entretanto, foram fatais. Foi barbaramente torturado e teve seus dedos das mãos todos quebrados em um gesto de simbologia macabra de que não iria mais tocar. Na sequência foi metralhado e seu corpo encontrado com mais de quarenta perfurações de bala.<br />
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Esta violência desmedida dá a ideia de quanto a cultura e as artes são ameaçadoras para regimes ditatoriais ou de cunho autoritário. É impossível não fazer um paralelo com a nossa ditadura e lembrar de nossos artistas perseguidos, exilados e censurados, como Geraldo Vandré, Chico Buarque ou Caetano Veloso. Ou não pensar na pauta recorrente de combate à cultura e seus agentes promovida pelo governo atual, desde a campanha eleitoral. O fato de o novo presidente da Funarte difundir teorias malucas, como aquela em que coloca os Beatles e Elvis como comunistas trabalhando para destruir o capitalismo, nos demanda posicionamento firme e vigilância, muito além do desprezo e chacota do primeiro instante.<br />
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Outra lição que tiramos é que a truculência não consegue calar a arte. Victor Jara e sua música retornam em um momento crucial para os chilenos e “Para não dizer que não falei das flores”, de Vandré, foi cantada mesmo no auge da ditadura. Ditadores passam para o lixo da história como merecem, enquanto grandes artistas são celebrados geração após geração. Porém, como diz a música, “é preciso estar atento e forte”. De tempos em tempos aparecem forças para combater as artes, sempre empunhando uma falsa bandeira de moralismo ou em uma suposta defesa da “beleza da arte verdadeira”. Desconfie. E conheça a obra de Victor Jara, que pode ser encontrada nas principais plataformas de streaming.<br />
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(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/te-recuerdo/1327" target="_blank">Jornal das Lajes, dezembro/2019</a>)Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-49908533205407672142019-12-15T15:57:00.000-08:002019-12-15T15:57:10.717-08:00Viola caipira: o som do Brasil<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Inúmeros formatos e tipos, uma infinidade de afinações e estilos que mudam a cada região: talvez a viola caipira seja o instrumento que melhor ilustra a diversidade cultural de nosso país. O instrumento veio de Portugal, herança da tradição da península Ibérica de se construir e tocar instrumentos de corda como o seu “primo” mais novo, o violão. Encontrou lar nesse nosso país e por aqui se espalhou, literalmente, de norte a sul. Por nossas dimensões continentais e dificuldades de se vencer grandes distâncias, a viola desenvolveu-se de forma diferente país afora em termos de estilos, afinações e ritmos. Cinturada, de cabaça, de coxo, a rara de doze cordas, cordas de metal ou de tripa de animais: apenas alguns exemplos da variedade de construção e tipos de viola. Além disso, também é tocada nas mais diversas afinações, que possuem nomes curiosos como Cebolão, Rio Abaixo, Paulistinha ou Cana Verde.<br />
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A viola tem suas tradições e lendas e até um santo padroeiro dos violeiros: São Gonçalo de Amarante, que tocava a sua viola nas festas aos sábados. De tão cansadas de dançar por toda a noite, as moças não pecavam no domingo e se dedicavam à missa. Mais notável, porém, é a vida dupla da viola que transita entre os terrenos do sagrado e do profano. Instrumento típico de festejos religiosos como a Folia de Reis, ao mesmo tempo a viola é quem agitava as festas profanas e os bailes onde o sertanejo se entregava às tentações nos braços da amada. E para desenvolver sua técnica a lenda diz que o violeiro ainda pode recorrer a um pacto com o Sem Nome, o Coisa Ruim. E uma última técnica misteriosa: pra melhorar o som do instrumento coloca-se dentro do corpo um guizo de cascavel. Várias histórias que acrescentam charme ao fascinante mundo da viola caipira.<br />
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A popularização da viola talvez tenha tido no grande Tião Carreiro, um dos seus maiores embaixadores, que levou para a indústria fonográfica um toque criativo e virtuoso com o sotaque forte do interior. A partir daí, vários outros violeiros ajudaram a difundir o instrumento, como o Almir Sater, que levou a viola para a novela no horário nobre. Cada vez mais se abrem possibilidades para o instrumento e grandes músicos exploram o som incrível que esse pequeno instrumento consegue produzir. Violeiros como Ivan Vilela, Roberto Corrêa e Tavinho Moura seguem provando que a viola pode ser um instrumento solista, com direito a ser tratado por erudito como o seu "primo" violão. Também grandes solistas, porém com um pé mais fincado na tradição sertaneja, podemos citar os virtuosos Levi Ramiro, Paulo Freire e Índio Cachoeira. Nas nossas Minas temos os exemplos de Wilson Dias, Pereira da Viola e Chico Lobo, grandes instrumentistas e que também fazem da viola a companheira de belas canções. Por fim, a dupla Ricardo Vignini e Zé Helder tem levado a viola para o terreno do rock, seja com o seu trabalho em duo, o Moda de Rock, onde releem clássicos do estilo arranjados com ritmos tradicionais de viola, seja com o Matuto Moderno, que definitivamente coloca a viola em um grupo de pegada roqueira, com direito a solos distorcidos.<br />
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É um tanto difícil fazer uma lista de violeiros nesse curto espaço sem cometer injustiças e omissões. É um universo tão fascinante quanto grande e cada vez mais se veem músicos novos se dedicando a esse instrumento que, como mostrei acima, sintetiza a riqueza cultural do nosso país e resgata tradições centenárias. Para abrir mais espaço para compartilhar dicas e os trabalhos de novos artistas e clássicos, estou criando no Facebook a página Trilha Sonora para postar sugestões e artigos ligados à música. E convido o leitor para também usar o espaço para dividir boas dicas com todos. Aguardo suas visitas e curtidas no endereço https://www.facebook.com/TrilhaSonoraBR<br />
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(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/viola-caipira-o-som-do-brasil/698" target="_blank">Jornal das Lajes, setembro/2014</a>)Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-47716881869606798762019-12-15T15:33:00.002-08:002019-12-15T15:33:19.041-08:00Partidas precoces<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_opfEDhQpClRgTMCQ3vlEx_7Wi-JEFkLcasmtKV-9o7K7zvy-friJyPanQRmlS3frKucYCZBDVmaLcDmjwFF1Jl9UxSAmUDrrcHs6RbfcPV1S7Aob1-exsNPkR88sewW3VruxYA_awKg/s1600/201408_Partidas+precoces.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="641" data-original-width="1218" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_opfEDhQpClRgTMCQ3vlEx_7Wi-JEFkLcasmtKV-9o7K7zvy-friJyPanQRmlS3frKucYCZBDVmaLcDmjwFF1Jl9UxSAmUDrrcHs6RbfcPV1S7Aob1-exsNPkR88sewW3VruxYA_awKg/s400/201408_Partidas+precoces.jpg" width="400" /></a></div>
Após escrever nas últimas edições sobre coisas novas, é hora de revisitar os clássicos. Afinal, nossas vitrolas não conseguem ficar sem eles. Aliás, muitas vezes somos saudosistas em excesso e esquecemos o novo. Certos artistas, porém, se tornam clássicos por bons motivos e nada como o teste do tempo para separar o que é realmente bom das modas passageiras. Dessa vez gostaria de escrever sobre dois grandes guitarristas que se foram muito jovens, mas cujas obras venceram a barreira do tempo: Duane Allman e Stevie Ray Vaughan (SRV). Dois talentos incríveis que infelizmente não puderam produzir mais, pois se encantaram muito novos.<br />
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Duane Allman foi um guitarrista que despontou muito jovem e logo se tornou um requisitado músico de estúdio. Em 1969, com apenas 23 anos, Duane e seu irmão Gregg formaram o grupo Allman Brothers Band e lançaram o primeiro disco, “The Allman Brothers Band”. Em seguida veio “Idlewild South” e o reconhecimento com o grande sucesso comercial do grupo, o disco “At Fillmore East”, gravado ao vivo na lendária casa de shows nova-iorquina. Pouco depois desse disco Duane viria a falecer em um acidente de moto, com apenas 24 anos. Pouco tempo, mas o suficiente para conquistar vários admiradores com sua guitarra blues. Entre eles ninguém menos que Eric Clapton, que o convidou para dividir as guitarras no histórico álbum “Layla and Assorted Love Songs”, um dos melhores discos de rock-blues de todos os tempos. A banda Allman Brothers merece grande crédito por ser uma das precursoras do estilo conhecido como o “Southern Rock” – o rock sulista – que mistura o rock com o country (aliás, os irmãos Allman são de Nashville, capital da música country). A Allman Brothers ainda acrescentava grandes doses de blues. Os três discos da Allman Brothers com Duane e “Layla” são audições obrigatórias para os fãs de rock e blues e a guitarra de Duane com certeza fez por merecer seu lugar no panteão do rock.<br />
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Stevie Ray Vaughan também se foi jovem, com apenas 36 anos e um histórico de apenas 6 discos (dois póstumos), sendo um com o irmão Jimmy Vaughan e os demais com sua banda, a “Double Trouble”. Após passar por diversas bandas, obteve reconhecimento com o Double Trouble que, após conquistarem um certo sucesso no Texas, foram convidados para participar do famoso festival de jazz de Montreaux em 1982 em uma noite dedicada ao blues. A apresentação chocou parte da plateia que, acostumada com o jazz e suas sutilezas, levou uma pancada da sua guitarra enérgica e algumas vaias vieram. O festival, porém, rendeu contatos para SRV e a oportunidade de lançar o seu primeiro álbum, “Texas Flood”, de 1983. A partir daí SRV ganharia notoriedade rapidamente ao resgatar nos anos 1980 o blues. Por isso é reconhecido como um dos responsáveis pelo renascimento do estilo que se deu naquela década. Stevie conseguia conjugar uma voz na medida com uma técnica de guitarra impecável. Sua guitarra carrega uma sonoridade crua e traz para o blues a força do rock. Em 1990 foi vítima de um acidente de helicóptero após um show. De legado deixou excelentes discos dos quais destaco “Texas Flood” e “In Step”. Excelente pedida pra ouvir um blues potente e com uma guitarra incendiária.<br />
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Faltou falar de um que também se foi jovem, pouco antes de completar 28 anos. Talvez o maior de todos os tempos e, com certeza, a maior personificação da guitarra rock: Jimi Hendrix. Hendrix, porém, merece o espaço desta coluna inteiro só pra ele. Em comum, todos têm a guitarra como elemento vital, quase uma extensão do corpo e através dela deixaram suas marcas em uma passagem breve por esse plano de vida. As marcas mais notáveis, aliás, ficaram nos sulcos dos LPs que nos encantam até hoje. Fica sempre a dúvida de como seria se não tivessem partido tão jovens. O que estariam produzindo? Continuariam fiéis ao blues ou se renderiam a algo mais pop para tocarem nas rádios e na grande mídia? Bem, para as lendas essas questões mundanas são de certa forma irrelevantes.<br />
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(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/partidas-precoces/684" target="_blank">Jornal das Lajes, agosto/2014</a>)Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-37909509659272309032019-10-20T15:09:00.000-07:002019-10-20T15:09:09.224-07:00Bob Dylan incendiário<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3WjUBEny7jyGmZIuXBNz7amY1xbckkyRbys4osAF_kF-vERdcIRbXdzL8jvoDtlo-Un482n6qLnUEsOKlkfu0cD8LrVOYmXHg64LGQ0TsQxJaO4ubyo817uRlRw3j_QJdt30ay50kBME/s1600/201910_Bob-Dylan-rolling-thunder-revue.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="1218" height="336" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3WjUBEny7jyGmZIuXBNz7amY1xbckkyRbys4osAF_kF-vERdcIRbXdzL8jvoDtlo-Un482n6qLnUEsOKlkfu0cD8LrVOYmXHg64LGQ0TsQxJaO4ubyo817uRlRw3j_QJdt30ay50kBME/s640/201910_Bob-Dylan-rolling-thunder-revue.jpg" width="640" /></a></div>
Adjetivos para descrever ou elogiar Bob Dylan não faltam. Um dos artistas pop mais celebrado de todos os tempos, ele já tem seu nome gravado com destaque no panteão dos grandes da música moderna. Seu trabalho influenciou gerações de músicos e, como se isso não fosse o suficiente, ainda ganhou em 2016 o Prêmio Nobel de literatura pela qualidade das suas letras e livros escritos. Recentemente, ganhamos nas telas um presente e tanto para entender a extensão e a força do trabalho de Bob Dylan, o excepcional documentário “Rolling Thunder Revue – A Bob Dylan Story”, do renomado diretor Martin Scorsese, disponível no Netflix.<br />
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Bob Dylan já era um artista consagrado quando sofreu um grave acidente de moto em 1966 e se afastou das turnês até 1974, quando voltou aos palcos com sua banda tradicional, a The Band, para tocar em grandes estádios lotados. No ano seguinte, entretanto, Dylan lançou um projeto inusitado. Ele queria fazer uma turnê em estilo quase mambembe, como se fosse uma espécie de circo ou show de variedades. Dylan convidou alguns músicos amigos, como Roger McGuinn, dos Byrds, e a antiga parceira, a incomparável Joan Baez. Abriu mão da competente The Band e recrutou uma banda bem menos qualificada e saíram, literalmente, pela estrada com alguns trailers e um ou outro caminhão levando um mínimo de equipamento.<br />
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Ao invés de grandes centros e estádios enormes, os shows aconteceram em cidades do interior e pequenos teatros, em uma visível tentativa de retorno às origens. No lugar de shows cronometrados e com repertórios rigorosamente iguais, interpretações livres e músicas escolhidas muitas vezes no palco ou atendendo a pedidos da plateia. De acordo com os músicos, Dylan mudava as interpretações das músicas a cada show de forma absolutamente inesperada, fazendo com que a banda precisasse estar sempre atenta e pronta para se adaptar no palco.<br />
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O resultado desse espírito de liberdade e criatividade foi um Dylan completamente à vontade no palco e com interpretações incendiárias de seus clássicos e de algumas músicas novas que apareceriam no excelente álbum “Desire”, lançado no meio da turnê. Bob Dylan aparece no palco como se estivesse no auge de sua forma, com uma presença de palco quase hipnotizante e que foi brilhantemente capturada na filmagem. Há mais energia no olhar de Dylan nesses shows do que em muito disco de rock que se ouve por aí. A veia militante e de protesto de Dylan também estava de volta e, durante a turnê, ele estava engajado na campanha pela inocência de Rubin “Hurricane” Carter, boxeador que passou quase vinte anos em uma prisão injustamente, em uma história contada sem medo na incrível canção “Hurricane”, escrita por Dylan.<br />
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E o documentário? Recomendo muito por uma série de motivos. Scorsese soube costurar as imagens gravadas na época e contar a história de uma forma muito interessante. Dylan estava dirigindo um filme e aproveitou para documentar a turnê e seus bastidores. Scorsese adicionou um toque interessantíssimo ao inserir no filme algumas histórias e depoimentos que não são reais, mas que convencem e fazem com que seja quase impossível separar a ficção da realidade. Eu mesmo não me toquei disso quando vi pela primeira vez e somente soube das partes ficcionais quando comecei a pesquisar sobre a turnê e o filme. Porém, não vou antecipar aqui o que não é verdade. Deixo para você assistir ao filme e fazer seu julgamento. Já antecipo que uma pesquisa rápida em artigos vai contar a verdade. As cenas de bastidores são interessantíssimas por conta dos personagens importantes que Dylan reuniu à sua volta, como o poeta Allen Ginsberg ou a cantora Joni Mitchell.<br />
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Finalmente, as apresentações de Dylan são, como já mencionei acima, memoráveis. Enfim, é um documentário com uma história e tanto a ser contada e, ainda por cima, com músicas sensacionais no meio. Não tem como dar errado.<br />
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(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/bob-dylan-incendiario/1308" target="_blank">Jornal das Lajes, outubro/2019</a>)Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-57600677212623218952019-09-29T08:02:00.001-07:002019-09-29T08:12:33.099-07:00O Pasquim: resistência com inteligência<br />
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Por esses dias encontrei em uma banca de promoção um volume da antologia do Pasquim, cobrindo os anos de 1972 e 1973. Já havia namorado esse volume, não comprado e me arrependido. Não repeti o erro. Nos primeiros minutos de passeio pelas páginas vi que a decisão foi acertada e me deliciei com o livro.<br />
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O Pasquim foi muito mais do que uma publicação. Foi um ato de resistência ao governo militar, lutando com armas suaves e ferozes ao mesmo tempo: inteligência, cultura e humor mais do que afiado. Da reunião de uma seleção de craques que incluía Millôr Fernandes, Henfil, Jaguar, Ziraldo, Paulo Francis, Sérgio Cabral e outros, só poderia sair coisa boa. <br />
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É impossível não passar pelas páginas sem se deter nos cartuns e quadrinhos incríveis dessas feras. Em um país que continua desigual, controlado por grupos com interesses pouco republicanos e esfolado diariamente na luta do pão de cada dia, os quadrinhos permanecem mais do que atuais, infelizmente. Um bom cartunista é gênero de primeira necessidade em nosso país e, felizmente, o bastão foi passado para boas mãos e nesse quesito continuamos bem servidos, apesar de que sempre acho que o Henfil faz falta nos dias de hoje. Em tempos em que o presidente da república fala com tanto desdém dos nordestinos, por exemplo, gostaria de ver a opinião da Graúna, do Zeferino e do Bode Francisco Orellana. <br />
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O Pasquim, porém, é muito mais do que seus cartuns e charges. Os textos são ótimos e as entrevistas sensacionais. Nesses dois campos é que acho difícil – quiçá impossível – achar alguma publicação à altura nos dias de hoje. Sobre os textos não posso emitir opinião, pois não dediquei ainda o tempo necessário. Exceção feita a um breve, mas muito legal texto do Cabral explicando porque Pixinguinha foi o maior músico do Brasil. Ao que parece, foi escrito logo após a morte do músico. Curiosamente, acabei fisgado pelas entrevistas, que se destacam pelo conteúdo, perguntas brilhantes e, principalmente, pela total ausência das pragas da obviedade e do bom-mocismo que infestam as entrevistas atualmente. Nos dias hoje, o que vemos com frequência são entrevistas pautadas pelo entrevistado e devidamente esterilizadas pelos seus assessores de imprensa. Ou entrevistas sem o mínimo de contundência por parte do entrevistador para se manter em bons termos e com acesso ao entrevistado. <br />
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Naquelas que eu li no Pasquim, entretanto, achei algumas revelações muito legais e, em certa medida, surpreendentes. Como quando o Carlos Alberto Torres, capitão de 70, fala com todas as letras que o Brasil não seria campeão daquela copa se o João Saldanha tivesse se mantido como técnico. Ou quando o Dadá Maravilha explica que por trás daquela figura expansiva e divertida há um sujeito que tem uma história de vida difícil e que sofre profundamente com várias tristezas que a vida lhe deu. Guilherme Araújo, que na época era empresário de Gil e Caetano, é pressionado pelos entrevistadores para discutir aparentes contradições da dupla, como no caso de Gil que iria tomar parte de um grande festival (o Festival Internacional da Canção, FIC, da Globo) após ter sido desclassificado na seletiva do mesmo evento em 68. O dia seguinte àquela eliminação de Gil ficou marcado pela vaia histórica que Caetano levou e sua reação com um discurso furioso enquanto defendia “É proibido proibir”. Hermeto Pascoal também surpreendeu com seu proposital distanciamento da política naqueles dias e um aceno de certa simpatia à censura que ainda operava forte. <br />
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Pensando no momento atual e por toda a grande mudança de hábitos de leitura e relações com as novas mídias e redes sociais, pode-se questionar se uma publicação no estilo do Pasquim prosperaria, seja em papel ou mesmo em um novo formato eletrônico. De todo modo, a reunião de tanta gente boa me faz crer que, inevitavelmente, ao menos teriam um grande impacto e fariam barulho. Poderia também discutir se tal empreitada sobreviveria financeiramente, mas creio que isso é quase um detalhe, já que fracassaram da primeira vez e ainda assim fizeram história. De todo modo, em dias em que estamos testemunhando uma escalada do autoritarismo, é mais que natural pensar: que falta faz o Pasquim.Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-26048758907438728352019-09-20T16:50:00.002-07:002019-09-20T16:51:23.079-07:001969 e o fim do sonho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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No mês de agosto comemoraram-se os 50 anos do festival que marcou uma época e se transformou em um marco da cultura moderna: o festival de Woodstock. Desde seu acontecimento, ele foi tema de músicas, filmes, livros e referência recorrente na cultura popular. Ele não foi o maior festival de música e pode-se discutir se foi o mais importante. Mas ainda assim, fixou-se no inconsciente coletivo e é louvado a ponto de entrar no campo da mistificação de suas narrativas. Tal como mito, hoje é difícil separar realidade e lenda daquilo que se fala a respeito. Independentemente das idealizações, o festival foi um momento crítico e conseguiu ser, ao mesmo tempo, o ponto alto e talvez o encerramento de um capítulo incrível da história recente que envolve toda a revolução musical e de costumes causada pelo rock e passagens fascinantes como o movimento hippie.</div>
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O rock havia mudado de patamar. Além de ritmo musical, passou a ser um influenciador de comportamento, moda e estética. No campo musical, na trilha aberta por Bob Dylan e pelo álbum “Sergeant Pepper’s” dos Beatles, o estilo se tornava denso para se converter em voz de uma geração. Em 1967 acontece o “Verão do Amor”, que reúne em San Francisco hippies que esperavam novos tempos. No mesmo ano, tem lugar o festival Monterey Pop, na Califórnia, pioneiro dos grandes eventos e que apresenta uma seleção de artistas de fazer inveja. Já em 1968, parece que o mundo estava a ponto de explodir, com agitações em todos os continentes.</div>
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Paris ardia em chamas em maio enquanto a ofensiva do Tet no Vietnã apontava para a impossibilidade dos EUA vencerem uma guerra que já era contestada no país. No Brasil a ditadura endurecia e o 5º Ato Institucional baixado pelos gorilas jogaria o país em anos de trevas. Na antiga Tchecoslováquia, o plano de se instalar um socialismo mais liberal é esmagado pelos tanques soviéticos. Assim, no ano seguinte, a realização de um festival que prometia três dias de paz e amor seduziu a juventude. Vários artistas declinaram o convite para participar, mas alguns admitiriam depois o arrependimento por não terem feito parte daquele momento histórico. O público, porém, superou as expectativas dos organizadores e invadiu a pequena cidade de Bethel, no estado de Nova Iorque. Como os portões foram abertos para evitar confusão, nunca se saberá quantas pessoas compareceram, mas a estimativa mais aceita dá que cerca de 400.000 participaram do evento.</div>
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Após uma sucessão de grandes shows, talvez muita gente tenha saído de lá cheio de esperança com o futuro. Essa vibração inspirou imediatamente a belíssima canção “Woodstock”, de Joni Mitchell, que, ironicamente, não participou do festival, mas ficou fascinada com os relatos do parceiro David Crosby, do Crosby, Stills, Nash & Young, que lá estiveram. Porém, o que se sucedeu depois não confirmou as expectativas de um novo mundo. A guerra do Vietnã não acabou, o mundo continuou dividido entre o capitalismo, socialismo e um cinturão de pobreza e o movimento hippie começou a declinar. O rock, por sua vez, entra em uma fase de menos inocência e mais olho no dinheiro. Começa o tempo das grandes turnês com shows em estádios gigantes e toda sorte de excessos.</div>
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No ano de 1969, alguns eventos ajudariam a reforçar a sensação do fim do sonho. Os Beatles gravariam o seu último álbum, o “Abbey Road”, enquanto os Rolling Stones ficariam marcados pelo assassinato de um expectador no festival de Altmont. O que pretendia ser uma espécie de Woodstock na Costa Oeste terminou com a violência dos temidos motoqueiros Hell’s Angels, contratados para fazer a segurança do evento.</div>
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Assim, Woodstock, com tudo o que aconteceu e foi fantasiado ao seu redor, parecia ser um farol da nova era de aquário, mas acabou se tornando talvez o último ato de um sonho. Seria ele o mais importante festival de todos os tempos? Creio que sim. Deixem-se de lado os números, as histórias e estórias. É um marco que será lembrado por muito tempo como símbolo de um mundo de paz sempre possível.<br />
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(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/1969-e-o-fim-do-sonho/1301" target="_blank">Jornal das Lajes</a>, setembro/2019)</div>
Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-59741258182522028202019-08-24T11:44:00.001-07:002019-08-24T11:59:51.151-07:00João<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Na história da música, temos uma série de nomes que serão sempre lembrados por seus trabalhos inspirados e por terem sido relevantes em algum momento. Porém, quando falamos de artistas que realmente definiram um estilo, seja como um marco fundador ou como causador de uma revolução, a lista de nomes passa a ser contada nos dedos das mãos. Na música erudita, por exemplo, para centenas de grandes compositores, os realmente essenciais se resumem a uma lista que terá Bach, Mozart, Beethoven, Wagner e mais alguns. No rock podemos destacar Chuck Berry, Elvis Presley, os Beatles, Bob Dylan e outros poucos.</div>
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Na MPB não é diferente. O Brasil é um celeiro de talentos e qualquer lista de artistas importantes será interminável. Porém, na hora de selecionar os que foram divisores de água, a lista se reduz muito: Pixinguinha, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Luiz Gonzaga, por exemplo. Infelizmente, há um mês perdemos um desses grandes, o mestre João Gilberto, cuja batida de violão e estilo único de cantar o fazem, com justiça, o pai da Bossa Nova, estilo que levou a música brasileira para um sucesso sem precedentes além das nossas fronteiras.</div>
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Baiano de Juazeiro, ainda bem jovem começou a sua carreira na música e com sua bela voz logo foi para o Rio de Janeiro tentar a sorte. Era o tempo do samba-canção e dos cantores de voz potente, como Orlando Silva. Apesar de gravar um disco e outros trabalhos, a passagem não rendeu frutos. Decepcionado, João passa por um período isolado na casa da sua irmã em Diamantina, que acabaria sendo uma reconstrução musical em que buscou incansavelmente um novo jeito de cantar e de tocar. Saiu de lá com um estilo que era a antítese dos cantores de então, nos quais um dia se espelhou. Ao invés da potência, entrou em cena um canto delicado, de notas precisas e letra cantada com todo cuidado, com cada sílaba pronunciada perfeitamente. E uma batida que sintetizava o samba e outros ritmos brasileiros e que, em breve, se tornaria quase sinônimo de música brasileira.</div>
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Ao chegar ao Rio, João rapidamente causou agitação com a sua batida e encontrou nas composições de Tom, Vinícius e Newton Mendonça o casamento perfeito para seu ritmo. Nascia a Bossa Nova e a lenda de João Gilberto. Ou as lendas, talvez. Vieram na sequência os álbuns que o consagrariam: “Chega de Saudade” (1959) e “O amor, O Sorriso e a Flor” (1960), ambos com a direção de Tom Jobim. O reconhecimento internacional viria após o histórico concerto da Bossa Nova no Carnegie Hall em Nova Iorque e com o disco de grande sucesso internacional, o “Getz/Gilberto” (1964), com o saxofonista norte-americano Stan Getz. João então se tornou uma referência que cruzou gerações muito além dos seus pares da nascente Bossa Nova.</div>
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Apesar de sua grandeza e talento, João Gilberto teve uma carreira um tanto errática por conta dos seus comportamentos inusitados e a sua vida reclusa. Nos últimos tempos, infelizmente, seus problemas familiares se tornaram o destaque nas matérias. Porém, chamou a atenção também a batalha que travou por anos com a EMI pelo controle de sua obra. Resumindo, João protestou contra um relançamento das músicas dos primeiros discos, alegando que a gravadora, detentora dos direitos comerciais das obras, modificou as músicas sem sua autorização (trechos cortados e efeitos sonoros acrescentados, por exemplo). É uma história para ser contada em outra oportunidade, mas simbólica dos contratos duvidosos que mesmo grandes artistas como ele e Tom Jobim assinaram naqueles tempos.</div>
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De todo modo, João Gilberto era a soma da sua genialidade e excentricidades. A primeira vai ser lembrada sempre e sua influência ainda irá ecoar por muito tempo. Até hoje é impossível aprender violão sem conhecer “a batida do João Gilberto”. Quanto às excentricidades, essas rendem histórias curiosas e divertidas. A única coisa que espero é que sua obra gravada seja tratada o quanto antes com o devido respeito que merece e não volte apenas em lançamentos apressados e com cheiro de “caça-níquel”. Seria muito bom ver seus discos ganharem o tratamento de luxo que merecem.<br />
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(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/joao/1296" target="_blank">Jornal das Lajes</a>, agosto/2019)</div>
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Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-52392046505213484672019-07-20T09:57:00.001-07:002019-09-18T06:41:20.949-07:00As várias faces de Rita Lee<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheHk5uc70LeRNIW9dAbR8oMXAS675TA6J65cQw_d-gOomjCAhMfQSDC8azkx3ofk-7NoH94XX8PpmySvnH3uPAotOu4CK13nub7dBuhLIrf64mzqgvO79LY1usI_ewj_vaWoV0KHZ_rh8/s1600/201907_RitaLee.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img border="0" data-original-height="641" data-original-width="1220" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheHk5uc70LeRNIW9dAbR8oMXAS675TA6J65cQw_d-gOomjCAhMfQSDC8azkx3ofk-7NoH94XX8PpmySvnH3uPAotOu4CK13nub7dBuhLIrf64mzqgvO79LY1usI_ewj_vaWoV0KHZ_rh8/s400/201907_RitaLee.jpg" width="400" /></a></div>
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Sou das antigas e ainda gosto de comprar discos. Gosto de esmiuçar o encarte e a ficha técnica do álbum para saber quem tocou nas faixas, quem são os compositores e admirar as artes. Ouvir através de streaming é prático, mas a única informação a mais que temos é a arte da capa. Assim, não abrirei mão de comprar discos enquanto eles existirem. Outro dia, não resisti a uma promoção de uma pequena caixa de CDs com os três primeiros discos da carreira solo da Rita Lee, uma fase de transição impressionante e decisiva da sua carreira.</div>
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Rita Lee surgiu com uma das bandas mais corajosas e inovadoras da música brasileira, Os Mutantes, ao lado dos irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Em um momento em que o rock ainda era inocente e com temáticas juvenis, os Mutantes ousaram empunhar guitarras elétricas e levar o rock nacional para a idade adulta com um som psicodélico e com substância. Encontraram a parceria perfeita com o movimento tropicalista e balançaram o cenário musical brasileiro. Rita se destacou como cantora e compositora e a gravadora se animou com a ideia de lançá-la em um disco solo. O seu primeiro álbum, “Build Up”, foi, na prática, um álbum dos Mutantes creditado à Rita. Tinha toda a sonoridade da banda e algumas faixas assinadas por Arnaldo Baptista, que naquele momento estava casado com Rita Lee.</div>
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Na sequência, veio o segundo álbum de Rita, “Hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas”, novamente um verdadeiro disco dos Mutantes, com a banda completa nos instrumentais e praticamente todas as faixas assinadas por ao menos um dos irmãos Dias Baptista. Naturalmente, a sonoridade ainda era a dos Mutantes: extremamente psicodélica, experimental e já com um pé no rock progressivo, que já estava em alta em 1972. E nesse ponto, com os Mutantes já consolidados e com sucesso comercial, a situação vira de cabeça para baixo para a banda e para Rita. O seu casamento com Arnaldo tem um fim conturbado e, ao mesmo tempo, ela é expulsa da banda. A separação com certeza contribuiu, mas a guinada para o rock progressivo teve seu peso na expulsão. Os irmãos Dias Baptista teriam alegado que uma banda de progressivo precisaria de instrumentistas competentes, coisa que Rita, uma intérprete por excelência, não era.</div>
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Nesse momento, começa o renascimento de Rita Lee, que a levaria para destinos que nunca alcançaria a reboque dos Mutantes. O terceiro disco da caixa é o excelente “Atrás do porto tem uma cidade”, que definiria o estilo de Rita nesta nova fase. Finalmente sozinha, Rita Lee recrutou uma legítima banda de rock para ser seu apoio. A banda, batizada de Tutti Frutti, tinha no comando o lendário Luis Carlini na guitarra. O disco, que nem de longe lembra os Mutantes, foi algo necessário para que Rita Lee mostrasse que era uma verdadeira artista capaz de liderar um grupo e levantar o público. O disco é puxado para o hard rock, com bases bem mais pesadas do que rolava no país na época. Apesar de algumas críticas negativas, emplacou um sucesso com “Mamãe Natureza” e pavimentou o caminho para outros álbuns de altíssimo nível que viriam em uma sequência de tirar o fôlego: “Fruto proibido”, “Entradas e bandeiras” e “Babilônia”.</div>
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Apesar de emplacar vários hits nesses álbuns, a fase de maior sucesso comercial de Rita ainda estava por vir. “Babilônia” seria o último álbum com o Tutti Frutti; depois, começaria a parceria com Roberto de Carvalho. Mais uma vez, Rita mudaria o rumo musical e sua sonoridade, desta vez para uma pegada mais leve e pop e teria um sucesso comercial sem precedentes, que a colocaria entre os artistas de maior vendagem na história do país. Por isso, essa foi sua fase mais conhecida do grande público. Para quem não conhece a fase mais roqueira, sempre recomendo ir atrás dos discos com o Tutti Frutti.</div>
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Rita surgiu com os Mutantes, mas mostrou que não precisava deles para crescer. Sempre mudando e buscando novos rumos, Rita definitivamente foi um dos grandes nomes do rock no país e abriu caminhos para o estilo.</div>
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(Publicado no <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/as-varias-faces-de-rita-lee/1287" target="_blank">Jornal das Lajes, julho de 2019</a>)</div>
Reflexoeshttp://www.blogger.com/profile/04867799250356591961noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4917958488311847780.post-8973462440995097842019-07-14T17:30:00.001-07:002019-07-14T17:31:42.724-07:00Criação Geral<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi74iu9AUGdf6-YyoBsTECOXsb_gFEDiZe19tZei3mMvni34KSKqPJJvXI2Kntf9VjUyfLDfDrab6v_C1iJLRMrCgIvbEWBU15oJLK5_f48micNBxfu3-D9xif38kdfhI6GhpPWu1y9U1c/s1600/201410_RecicloGeral.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="643" data-original-width="1221" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi74iu9AUGdf6-YyoBsTECOXsb_gFEDiZe19tZei3mMvni34KSKqPJJvXI2Kntf9VjUyfLDfDrab6v_C1iJLRMrCgIvbEWBU15oJLK5_f48micNBxfu3-D9xif38kdfhI6GhpPWu1y9U1c/s400/201410_RecicloGeral.jpg" width="400" /></a></div>
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A arte, assim como a vida, evolui em pequenos passos e dificilmente dá grandes saltos ou passa por revoluções. Porém, novos trabalhos às vezes demoram a sair à luz e, quando o fazem, podem até vir em uma onda de grandes proporções. A onda talvez até seja forte, mas a sua origem costuma ser pequenas gotas que vão se represando até romper a "barragem" do público e fazer com que determinado trabalho artístico se torne conhecido. No caso da música, é o momento em que ela sai do círculo de amigos, dos pequenos bares e toma dimensão maior.</div>
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Belo Horizonte passou por um desses "rompimentos de barragem" em 2002 e seus frutos continuam a ser colhidos até hoje: o movimento que ficou conhecido como o Reciclo Geral. A música mineira passou por momentos de destaque nas últimas décadas e o estado entrou no mapa musical. Primeiro, pelo trabalho do Clube da Esquina, depois pela turma do <em style="box-sizing: border-box;">Heavy Metal</em> - que teve no <em style="box-sizing: border-box;">Sepultura</em> seu grande expoente - e, mais recentemente, pelo pop de <em style="box-sizing: border-box;">Skank</em> e <em style="box-sizing: border-box;">Jota Quest</em>. Havia, porém, uma turma que não se enquadrava nesse esquema mais pop, mas que vinha produzindo música autoral de qualidade. Juntaram-se para promover shows que acabaram por acontecer no espaço conhecido como "Reciclo", da Asmare (Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável). Lá os novos artistas dividiram o palco com outros já conhecidos em uma série de concorridos shows que se tornariam o marco do que ficou conhecido como o "Reciclo Geral".</div>
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Em 2003 saiu o excelente álbum coletivo "A Outra Cidade", de Makely Ka, Pablo Castro e Kristoff Silva, três artistas que participaram do Reciclo Geral e que estreavam nos discos. O álbum conseguiu sintetizar bem o espírito do momento e abriu espaço para compositores e músicos que se lançavam ao mundo. O disco pode ser considerado ao mesmo tempo o final com chave de ouro dos shows do Reciclo e o catalisador de toda uma nova geração de artistas que, a partir dali, seria registrada em disco. Dos artistas revelados no Reciclo e que começariam a gravar podemos citar alguns como Dudu Nicácio, Leopoldina (do ANA, sobre o qual falei em julho), Sérgio Pererê, Mestre Jonas, Érika Machado, Vitor Santana, Mariana Nunes, além dos três estreantes citados anteriormente.</div>
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Saiu dali um caldeirão de sons, estilos e coloridos distintos que, na minha opinião, fazem com que o Reciclo Geral não possa ser classificado como um "movimento" no sentido de busca de uma determinada estética artística, mas sim como um marco fundador de uma nova geração, quase um "big bang" que revelou vários universos distintos circulando em BH. Mais importante talvez tenham sido as portas abertas naquele momento, pois esses artistas continuam produzindo trabalhos em alto nível, como os excelentes discos solo de Pablo Castro – “Anterior”, lançado em 2013 - e o recente “Cavalo Motor” de Makely Ka lançado nesse ano.</div>
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Termino explicando a brincadeira que fiz no título, pois julgo que o Reciclo Geral foi mais do que uma reciclagem da música. Aqueles artistas com certeza beberam e ainda bebem nas fontes de Milton Nascimento, Toninho Horta, Guinga ou João Bosco. Porém, eles foram além e apresentaram, seja em discos próprios ou em gravações por outros artistas, material original e com estilo próprio. Criações que valem a pena serem ouvidas com cuidado.</div>
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Não posso fechar sem agradecer ao amigo Luiz Henrique Garcia, autor do blog <a href="https://massacriticampb.blogspot.com/" target="_blank">Massa Crítica Música Popular</a>, que me apresentou vários trabalhos da turma do Reciclo Geral e que me ajudou na pesquisa para essa coluna.</div>
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<div class="MsoNormal" style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: rgb(51, 51, 51) !important; font-family: opensans-regular, arial, sans-serif !important; font-size: 16px !important; line-height: 24px !important; margin-bottom: 24px !important; margin-top: 27px !important;">
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(Publicado no Jornal das Lajes, <a href="https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/criacao-geral/709" target="_blank">outubro de 2014</a>)</div>
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