Parcerias improváveis ou a química misteriosa de certas bandas
Grandes momentos do rock nasceram
de parcerias improváveis. Conflitos de ego e estilo resultaram em uniões tensas,
mas que conseguiram fazer trabalhos memoráveis e me fazem pensar sobre a
química que ali existiu.
Assisti recentemente o
documentário “Stones in Exile”, que conta a gravação daquele que é considerado
um dos melhores discos dos Rolling Stones, o “Exile on Main Street”. Recomendo ambos:
o disco, que é excepcional, e o vídeo, que conta seu processo de criação.
Em tempos “pós-Sergeant Peppers”,
onde o álbum conceitual era a moda, os Stones seguiram o caminho contrário, o
da improvisação. Foram juntando fragmentos de músicas e letras e, em um
processo e ambiente quase caótico, fizeram um grande albúm, gravado quase todo
na mansão paradisíaca de Keith Richards a beira mar no sul da França. A mansão
e o lugar eram de sonhos, mas não o ambiente, movido a cocaína, heroína,
outras-ínas e Jack Daniels.
Mesmo em meio a esse caos, os
Stones encontravam uma força criativa e conseguiam dar forma a canções criadas
de forma quase coletiva, a partir de rabiscos em pedaços de papel. Quando as
coisas pareciam travar, de acordo com Keith Richards, bastava uma troca de olhares
para o processo ser retomado. E isso tudo em meio a um relacionamento tenso
entre os membros da banda que afetava principalmente seus dois principais
“motores”, Jagger e Richards.
Outro momento marcante e tenso, e
do qual saiu um disco igualmente memorável, foi a gravação do clássico “The
Dark Side of the Moon” do Pink Floyd. Os atritos entre David Gilmour e Roger
Waters – que culminariam com a saída do último da banda ainda em 1985 – já eram uma constante na época. “Dark Side”,
ao contrário de “Exile”, foi um álbum conceitual e planejado cuidadosamente.
Durante toda a criação e gravação, Gilmour e Waters – e Nick Mason e Rick
Wright não escapariam das brigas – bateram de frente, com discussões sobre o
papel de cada um: quem cantava, quem compunha e tudo mais. Mesmo assim, o
resultado dispensa comentários. Para quem gosta da banda, recomendo a leitura
da matéria “A Maldição do Pink Floyd”, revista Rolling Stone, edição 63,
dez/2011. Mostra bastante essa tensão do Pink Floyd.
A lista ainda poderia incluir
discos como o Álbum Branco dos Beatles, feito em um momento onde o
relacionamento da banda já estava muito deteriorado, mas paro por aqui. Sempre
pensei a respeito desses trabalhos e como se conseguiu resultados tão bons
apesar de todos os problemas de relacionamento. Seria o profissionalismo
falando mais alto? Não creio. Essa explicação é simplista demais. Penso que só
profissionalismo garantiria no máximo um bom disco, não um excepcional. A
música tem dessas coisas, elementos misteriosos e forças quase mágicas por trás
dessas uniões, mesmo naquelas em que harmonia era o que mais faltava.
Coronel,
ResponderExcluirVi o documentário e já escutei várias vezes o disco. Tenho ele em casa e é realmente um dos 3 melhores dos Stones. Os caras conseguiram criar uma obra prima num ambiente totalmente zoneado. Acho que por isso o disco é tão especial. Se tivesse sido de estúdio não teria a mesma pegada. Show de texto!
Abração,
Capt. Spiers.