Mulheres no rock

No fim de março, o mês das mulheres, me peguei escutando várias artistas que fizeram trabalhos relevantes no rock e andei matutando sobre o pioneirismo e o papel que elas tiveram nesse estilo, que pode até ser rotulado de machista. Quando se pensa nos grandes ícones do rock, rapidamente vem à cabeça nomes como Beatles, Led Zeppelin ou Pink Floyd. Nenhuma mulher no line-up dessas bandas e tantas outras que escreveram a história do estilo. Entretanto, algumas mulheres foram protagonistas e produziram trabalhos de qualidade e, creio eu, mereceriam maior reconhecimento.

Não é difícil entender a dificuldade que as mulheres tiveram em um passado não muito distante. Se nos conservadores anos 50 e 60 os pais ficavam horrorizados ao ver seus filhos homens deixando os cabelos crescerem e se agitando ao som do rock, imagine qual não seria a reação de um pai ao ouvir sua filha pedir uma guitarra. Ainda assim algumas mulheres venceram o preconceito da sociedade e, talvez, até do mercado: público e gravadoras. Entre cantoras e compositoras podemos fazer uma lista enorme com nomes como Grace Slick (Jefferson Airplane), a pioneira Suzi Quatro, Deborah Harry (Blondie), Patti Smith e, em tempos recentes, Alanis Morissette ou Amy Winehouse. Porém, por hoje vou falar de um quarteto mais que fantástico: Janis Joplin, Joan Jett, Bonnie Rait e Rita Lee.

Janis Joplin deixou o conservador Texas com apenas 20 anos para se estabelecer em San Francisco, o epicentro do rock psicodélico no fim dos anos 60. Cantora e compositora com o pé fincado no blues, ela se tornou conhecida cantando com a Big Brother and the Holding Company. Sua estrela, porém, brilharia bem forte e após dois álbuns partiria para cantar sozinha. Dona de uma voz crua e emocionante, Janis sucumbiu aos abusos de álcool e drogas e se foi com apenas 27 anos. Deixou somente quatro álbuns de estúdios e alguns ao vivo. Recomendo o álbum Pearl, que estava em gravação quando Janis partiu e foi lançado postumamente.

À mesma época, Rita Lee ganhava notoriedade no Brasil. Cantora de Os Mutantes, junto com os irmãos Dias Baptista, Arnaldo e Sérgio, foi pioneira ao levar o rock brasileiro para a idade adulta, em contraste com o rock inocente que existia por aqui. Descontente com a guinada para o rock progressivo dos Mutantes, Rita Lee partiu para a carreira solo e surpreendeu ao sobreviver, e bem, sozinha. Com uma carreira sólida até os dias de hoje, Rita Lee é a quarta artista com mais discos vendidos no Brasil, com a incrível marca de 55 milhões de álbuns. Fora os ótimos álbuns dos Mutantes, o disco “Fruto Proibido” é audição obrigatória.

Filha do blues, Bonnie Rait lançou seu primeiro álbum em 1971 e o sucesso comercial veio alguns anos depois. E foi uma das primeiras mulheres a serem aclamadas como instrumentista, com sua guitarra que segue as melhores tradições do blues do Mississipi. Bonnie Rait tem uma voz suave e cristalina, mas mesmo assim se sai muito bem em um estilo que normalmente é território de vozes potentes. Os seus dois primeiros discos, Bonnie Rait e Give It Up, apesar de não terem tido grande sucesso comercial, foram bem cotados pela crítica e valem a audição para quem gosta de um blues executado com o tradicional slide.

Joan Jett vem de uma onda bem diferente das outras três. Seu rock é cru e visceral, com o peso, energia e simplicidade do Punk. Joan se revelou e teve certo sucesso com a sua banda The Runaways, composta só de mulheres, formação pouco usual mesmo em 1975. Após o fim da banda em 79, Joan começaria uma carreira solo de sucesso com sua banda de apoio, The Blackhearts. Da sua ótima discografia recomendo os álbuns Bad Reputation e I Love Rock and Roll, seu grande sucesso comercial. Vale também conferir o filme The Runaways, que conta a história da banda.

Quatro roqueiras que provaram que o estilo não é um clube masculino e que sempre entregaram rebeldia, energia e música de qualidade como o estilo pede.

(Publicado no Jornal das Lajes, abril/2015)

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