Beatlemania, um vírus incurável

Maio deste ano marcou 40 anos do lançamento do álbum Let It Be, o último de estúdio dos Beatles1, a banda que escreveu um dos livros mais importantes do evangelho do rock. Os quatro rapazes de Liverpool já haviam se separado antes mesmo do lançamento do álbum e o encontro como conjunto – sem John Lennon, naturalmente – só aconteceria em meados dos anos 90, para a efêmera produção dos álbuns e a série para TV Anthology. Os Beatles, porém, sobreviveram a esse intervalo de tempo e continuaram conquistando fãs.


E eu mesmo sou um exemplo disso. Nasci em 75, cinco anos após o fim da banda e só tinha cinco anos quando John Lennon morreu. Porém, com quinze anos ganhei uma fita cassete de presente (o MP3 só surgiria na minha fase adulta) com uma coletânea dos Beatles e fiquei louco com aquilo. Ouvi a fita um sem-número de vezes e, em seguida, comecei a ir atrás dos álbuns originais e da história da banda. Fui contaminado de forma irreversível pelo poderoso vírus da beatlemania, o mesmo que havia se espalhado em boa parte da juventude dos anos 60.


Em duas oportunidades tive a chance de perceber a força do vírus. Na primeira, em um show de uma excelente banda cover do Beatles (a Sergeant Pepper’s, de Belo Horizonte), me impressionou a diversidade do público. Eu e meus primos e amigos estávamos na faixa dos dezoito anos e na platéia, igualmente empolgados, havia adolescentes nos seus doze e até casais com mais de setenta. Não faltavam, é claro, aqueles que viveram a beatlemania junto com os Beatles. A segunda oportunidade foi em uma exposição sobre os Beatles em um shopping de BH. Chamou-me a atenção uma menina, bem mais nova do que eu. A cada vez que via o John Lennon no telão exibindo um show, ela se desmanchava em choro por um ídolo que provavelmente nunca havia visto vivo.


O vírus é realmente resistente ao tempo, porém, não é surpresa dada a qualidade do trabalho dos Beatles. Álbuns antológicos como Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band e Abbey Road, canções como Yesterday, Penny Lane ou Strawberry Fields e as viagens lisérgicas de Lucy in the Sky with Diamonds e Tomorrow Never Knows foram o motor do vírus. Da época da inocência de I Want To Hold Your Hand até o amadurecimento pleno em seus últimos álbuns, os Beatles continuaram arrebanhando admiradores e fanáticos e apesar de um fim relativamente precoce – pouco mais de dez anos de existência – a música e a mensagem ficaram.


E o relançamento dos seus álbuns remasterizados e incontáveis livros disponíveis nas livrarias sobre o Fab Four, o “quarteto fabuloso”, não deixam dúvida de que o vírus da beatlemania ainda deve resistir por um bom tempo. Yeah, yeah, yeah.

1 Na verdade, foi o último lançado, pois Let It Be foi gravado antes do Abbey Road, porém, só foi lançado posteriormente.

(Agradeço à minha tia/madrinha Rejane pela sugestão do texto e, acima de tudo, por ter sido quem me apresentou aos Beatles.)

(Texto publicado no Jornal das Lajes, Julho/2010)


Sugestões para conhecer os Beatles:

Nível básico (coletâneas):

  • The Beatles: 1962 – 1966
  • The Beatles: 1967 – 1970
  • Past Masters Volumes 1 e 2 (músicas lançadas em compacto)

Nível intermediário (álbuns originais):

  • A Hard Day’s Night
  • Rubber Soul
  • Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band
  • Abbey Road

Nível avançado: toda a discografia, mais o “Live at BBC” e a coleção “Anthology” (cd e dvd).

Comentários

  1. Eis aí o testemunho de uma geração que mudou o mundo! Cabelos soltos ao vento, a eterna crença em sonhos e a certeza de que o caminho era paz e amor, fez de nós pessoas engajadas, extremamente críticas culturalmente e, sobretudo revolucionárias eternas. Adorei cada palavra, Renato, porque foi e é exatamente isso!

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