Fim de semana de documentários

Em um fim de semana desses assisti dois documentários muito bons, ambos sobre grandes músicos/poetas: Raul Seixas e Vinícius de Moraes.

O “Vinícius” de Miguel Faria Jr. é uma obra de arte e muito criativo. Além do tradicional formato de documentário, com narrações e depoimentos de amigos, é entrecortado por artistas interpretando músicas de Vinícius. Estão lá Yamandú Costa, Adriana Calcanhoto, Olívia Byington, Mônica Salmaso, Zeca Pagodinho e outros. Conta ainda com uma bela interpretação de Camila Morgado e Ricardo Blat recitando poesias e textos de Vinícius.


Vinícius foi um poeta e letrista único e que cantou o amor e a vida como poucos e o documentário conseguiu capturar muito bem esse seu lado. É quase uma unanimidade entre os convidados a intensidade com que Vinícius vivia o amor, a ponto de ter sido casado com nove mulheres. Pelo visto ele viveu aquilo que escreveu em duas de suas poesias/letras: "que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure." e que “é melhor se sofrer junto do que ser feliz sozinho”. Outro ponto alto do documentário é mostrar como Vinícius navegou em águas musicais distintas, não se prendendo à bossa nova que o projetou como letrista. De fato, trabalhos subsequentes como os Afro-sambas compostos com Baden Powell ou a prolífica parceria com Toquinho produziram um material igualado por poucos na MPB. Como diz a letra da homenagem feita por Chico e Toquinho, Samba pra Vinícius, “a vida é pra valer/a vida é pra levar/Vinícius, velho, saravá”. E Vinícius soube viver.


Da MPB pro rock. Raul foi homenageado em “O Início, o Fim, o Meio” de Walter Carvalho e Evaldo Mocarzel. O documentário é muito interessante, porém, patina em certo momento. Explico. O documentário foi feliz em tratar de certos capítulos da vida de Raul. Um ponto alto são os depoimentos de seus parceiros, desde os colegas do início de carreira de Os Panteras, e os consagrados como Paulo Coelho - que, sem o menor pudor ou receio admite que apresentou as drogas à Raul - Cláudio Roberto e Marcelo Nova. Bacana também é a participação das ex-mulheres de Raul pela influência delas sobre o seu trabalho.


O filme decepciona, porém, ao focar demais no problema de Raul com o álcool e drogas. Ao meu ver gastou-se tempo demais com isso e perdeu-se a oportunidade de falar um pouco mais do Raul músico e seu processo criativo. Afinal, como já disse em um texto meu sobre Raul, no fim da vida e mesmo estando extremamente debilitado, Raul continuava afiado na composição e letras, como se pode ver no seu álbum de despedida, “A Panela do Diabo”. Assim, sem desmerecer o documentário, acho que seria mais rico se não focasse tanto nesse aspecto triste da vida de Raul pois há mais que poderia ter sido contado.


Dois grandes músicos e lendas. O próprio Paulo Coelho diz no documentário que figuras lendárias não tem história. Eles são o que a lenda contar. Acho que a frase vale para os dois, Raul e Vinícius que, tal como lendas, vão ser lembrados por muito tempo.


E nada melhor do que música pra falar de música. Segue um pout-pourri de Berimbau e Canto de Ossanha com Vinícius, Toquinho, Miucha e Tom Jobim e o clip de Maluco Beleza.






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